Briam (vegetais sortidos assados)

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A receita de hoje é mais uma da série “eu detestava comer isso na infância” – detestava, sim, no passado. Hoje considero este um dos pratos mais fáceis e versáteis da culinária grega. Como diz a diva Rita Lobo: “é pá pum!”. Abra qualquer livro de culinária grega e Briam aparecerá logo no início da categoria Ladherá.

Apesar de algumas pessoas (inclusive em muitos livros de receitas) chamarem este prato, carinhosamente, de Tourlou Tourlou (tradução livre: tudo junto e misturado), eu sempre o conheci como Briam ou Briami (Μπριαμ – Briám). Digamos que esta seja a nossa versão do clássico ratatouille – muitos vegetais, muito azeite, muito tomate… tudo junto e misturado! Garanto que é super tranquilo de preparar. Você pode servi-lo como prato principal ou como acompanhamento e, ainda, adicionar outros ingredientes como cogumelos, quiabo, vagem, etc. Seja criativo e me acompanhe!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1h30

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 6 batatas médias, cortadas em pedaços grossos
– 2 abobrinhas, cortadas em rodelas
– 1 berinjela grande, cortada em rodelas (opcional)
– 1 cebola roxa, cortada em pedaços grandes
– 2 dentes de alho, ralados
– 1 pimentão vermelho médio, cortado em tiras
– 1 alho-poró médio, cortado em rodelas (opcional)
– 3 tomates grandes, ralados
– 1 colher de chá de orégano
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca picada
– Sal e pimenta, a gosto
– 1/2 xícara de chá de azeite de oliva extravirgem + extra
– 1/2 copo americano de água morna

Modo de preparo:
1. 
Em tigela grande, misture as batatas, as abobrinhas, a berinjela, a cebola, o pimentão, o alho-poró e os dentes de alho ralados.
2. Tempere tudo muito bem com o orégano, a salsinha fresca, o sal e a pimenta. Misture.
3. Despeje os vegetais em uma travessa grande, adicione os tomates ralados e o azeite de oliva. Misture bem e adicione a água morna.
4. Leve ao forno preaquecido e asse em forno médio durante 50 minutos ou até que tudo esteja bem cozido e macio.
5. Retire do forno e regue com um pouco mais de azeite. Agora é só servir!

Dica amiga:
Vale a pena esperar um pouquinho para saborear 
Briam em temperatura ambiente ou, se preferir, no dia seguinte – isto é, claro, com bastante pão para absorver o caldinho!

Spanakorizo (arroz com espinafre)

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Uma das coisas que as pessoas têm comentado comigo (com surpresa) é o fato de a culinária grega oferecer uma variedade de pratos à base de vegetais. Parte disso com certeza vem da tradição do jejum da Igreja Ortodoxa Grega. Algumas pessoas chegam a passar quase metade do ano sem comer alimentos de origem animal! Mas, isso não quer dizer “alimentação sem graça” – sempre vale improvisar, usar ervas frescas e especiarias e priorizar os alimentos da estação.

Hoje compartilho uma receita muito simples e saborosa utilizando o queridinho da Grécia: O espinafre. O Spanakorizo (Σπανακόριζο – Spanakôrizo) é semelhante ao Lahanorizo – um arroz cremoso e aromático servido como prato principal… só que com espinafre. O prato também leva um pouco de vinho, o que faz com que acabe parecendo muito com um risoto. Cabe a você escolher o tipo de arroz e ficar atento ao tempo de cozimento! Na Grécia, utilizamos arroz carolino, mas, como não é encontrado com facilidade por aqui, recomendo qualquer arroz para risoto.

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 8 pessoas

Ingredientes:
– 1 cebola média, picada
– 3 dentes de alho, picados
– 2 maços de espinafre, lavados, sem talos
– 2 xícaras de arroz branco (ou arroz para risoto)
– 3 colheres de sopa de azeite de oliva
– 1 xícara de chá de cebolinha picada
– 1/2 xícara de chá de vinho branco
– 1 xícara de chá de endro (dill) picado (opcional)
– 6 xícaras de chá de água morna
– 2 colheres de sopa de manteiga
– Sal e pimenta, a gosto
– Noz-moscada ralada, a gosto
– Sumo de limão, para servir (opcional)
– Queijo Minas, parmesão ralado ou ricota desmanchada, para servir

Modo de preparo:
1. 
Em uma panela grande, refogue a cebola e o alho no azeite até que fiquem transparentes.
2. Junte o arroz e o vinho branco e misture. Cozinhe por mais ou menos dois minutos.
3. Em seguida junte o espinafre, a cebolinha, o endro, o sal, a pimenta e a noz-moscada. Misture bem e junte a água morna. Deixe pegar fervura, e, em seguida, cozinhe em fogo baixo até que o arroz fique macio (e cremoso – no caso do arroz para risoto). Se necessário, adicione mais água para o cozimento. O espinafre deve ficar macio também.
4. Quando o arroz estiver cozido (é importante que ele não esteja completamente seco, um pouco de líquido deve permanecer) adicione a manteiga e misture.
5. Sirva com sumo de limão e queijo ralado.

Dica amiga:
Acompanhe o Spanakorizo com ovos cozidos ou fritos, queijo Minas ou ricota desmanchada e um bom pão!

Gigantes Plaki…

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…ou, o melhor feijão-de-lima com molho de tomate que você respeita. Este acabou se tornando um dos meus pratos gregos favoritos. Como já expliquei por aqui, os gregos consomem MUITAS leguminosas. Mas, o prato de hoje, é especialmente querido por lá. Lembro bem de almoçar em uma taverna em Paros alguns anos atrás, e um dos “pratos do dia” era Gigantes Plaki – um dos melhores que já comi até hoje, na verdade. Nota sobre “pratos do dia” na Grécia e “mageireftá” (“slow food”, comida caseira): em minha opinião, esta é sempre a melhor opção em restaurantes gregos, faça frio ou faça calor – os ingredientes e pratos costumam ser mais fresquinhos.

Os feijões “gigantes” são, como o nome já diz, feijões brancos gigantes. Eles são cultivados na Grécia, especialmente no norte do país, em regiões como Kastoria, Florina e Drama, e possuem Indicação Geográfica Protegida. Vez ou outra, é possível encontrá-los à venda no Brasil, em mercados especializados ou feiras. Na falta deles, podemos utilizar o feijão-de-lima, que é bem parecido e não muda tanto o resultado final.

Gigantes Plaki (γίγαντες πλακί – ghíghandes plakí) é o nome dado a esse prato, que geralmente é servido como meze, e que significa que os feijões foram cozidos lentamente no forno com um molho de tomate delícia, normalmente em panelas de barro. Para muitas pessoas, o endro é um ingrediente muito importante (de fato, quase todas as versões que já provei tinham endro); outras pessoas gostam de adicionar vegetais como cenoura e salsão em rodelas. Eu, particularmente, gosto da versão mais simples, mas tudo isso fica a seu critério. O importante aqui é ter o feijão, um bom molho de tomate e um ótimo azeite extravirgem.

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 2h30
*Serve, em média: 4 pessoas, porção grande

Ingredientes:
– 500 g de feijão-de-lima (deixados de molho de um dia para o outro)
– 1 cebola roxa média, em cubos
– 4 dentes de alho, picados
– 3 xícaras de chá de tomates maduros, ralados
– 1 xícara de tomate pelado
– 1 colher de sopa de orégano
– Sal e pimenta, a gosto
– Salsinha fresca picada, a gosto
– 1 folha de louro
– 1 xícara de chá de azeite de oliva extravirgem + extra para refogar
– Endro (dill) fresco picado, a gosto (opcional)
– 1 pitada de açúcar
– 1 copo de água morna
– Coentro a gosto, para salpicar

Modo de preparo:
1. 
Cubra o feijão com água e cozinhe na pressão durante 15-20 minutos, até que fique macio mas não desmanchando.
2. Enquanto isso, prepare o molho. Refogue a cebola até que fique transparente. Adicione o alho, os tomates ralados, o tomate pelado, o orégano, o sal, a pimenta, o louro e o açúcar. Espere pegar fervura e, logo após, cozinhe em fogo baixo até o molho engrossar.
3. Adicione o feijão cozido, a salsinha fresca e o endro. Misture bem e desligue o fogo.
4. Preaqueça o forno a 200°C.
5. Despeje o conteúdo em uma travessa (se tiver uma panela ou travessa de barro, melhor ainda). Adicione a xícara de azeite e a xícara de água morna. Misture levemente.
6. Asse os feijões durante 40 minutos, ou até que fiquem bem macios e levemente caramelizados e, o molho, bem encorpado. Misture vez ou outra para não grudarem no fundo da travessa. Se necessário, adicione mais água.
7. Sirva com coentro fresco (ou com a erva fresca de sua preferência).

Dica amiga:
Gigantes Plaki fica mais delicioso no dia seguinte, ou se servido em temperatura ambiente. Uma excelente dica é acompanhar o prato com um bom pão caseiro ou com um pão italiano, e salpicar os feijões com ricota ou servir com um pedaço de Feta.

Imam Bayildi…o imã desmaiou!

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Certo dia, folheando o livro Culinária Mediterrânea: Receitas Saudáveis e Fáceis de Fazer (um livro maravilhoso, aliás), me deparei com uma receita do prato de hoje: o “Imam Bayildi”. Sempre tive curiosidade por conta do nome. Sempre ouvi histórias de como minha bisavó preparava um Imam Bayildi de lamber os beiços. Então, resolvi pesquisar mais sobre o assunto, a despeito da minha falta de habilidade para trabalhar com berinjelas.

Imam Bayildi (Iμάμ μπαϊλντί – imám baildí) é um prato da cozinha otomana que foi incorporado à culinária grega pelos gregos da Anatólia (ou Ásia Menor). Foram tantos anos de convivência entre estes povos que é normal encontrar pratos (músicas, costumes, etc…) semelhantes nos dois países. Mas, traduzindo… “imam bayildi” significa “o imã desmaiou”. E, como todo nome interessante, é claro que existe uma história por trás disso tudo. Neste caso, alguns dizem que o imã desmaiou quando provou este prato maravilhoso; outros, que foi por conta da quantidade exagerada de azeite de oliva que o prato leva. Eu prefiro a primeira opção – ele realmente é uma delícia e esta versão não leva taaaaanto azeite assim.

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 1h30
*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 4 berinjelas, lavadas e fatiadas na horizontal
– 1 cebola grande, picada (usei a roxa)
– 4 dentes de alho, picados
– 2 tomates grandes maduros, cortados em cubos
– 1 xícara de chá de molho de tomate
– 1 xícara de chá de água
– 1 colher de chá de canela em pó
– 1 colher de chá de cominho
– 1 colher de chá de açúcar
– 2 colheres de sopa de orégano
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca picada
– 2 fatias de pão de forma, desmanchadas
– Sal e pimenta a gosto
– 1/3 de xícara de chá de azeite extravirgem + extra para refogar cebola e alho
– Queijo ralado de sua preferência (utilizei queijo minas padrão) (opcional)

Modo de preparo:
1.
Tempere as fatias de berinjela com sal e azeite a gosto e disponha-as em uma travessa. Asse-as em forno médio até que fiquem macias e cozidas (mais ou menos 40 minutos).
2. Enquanto isso refogue a cebola e o alho em um pouco de azeite.
3. Quando estiverem translúcidos, adicione os tomates em cubos, o molho de tomate, a água, a canela em pó, o cominho, o açúcar, o orégano, e o sal e a pimenta. Misture bem e cozinhe em fogo baixo até o molho engrossar e reduzir.
4. Quando o molho estiver encorpado, adicione a salsinha fresca e misture. Desligue o fogo.
5. Pincele uma travessa média com azeite e faça uma camada de berinjelas. Adicione metade do molho de tomate, e faça outra camada com o restante das berinjelas. Adicione a outra metade do molho.
6. Regue o conteúdo com 1/3 de xícara de chá de azeite, salpique o queijo ralado e as fatias de pão desmanchado.
7. Asse em forno médio até o queijo gratinar.

Dica amiga:
A berinjela costuma soltar muita água, então tome cuidado para o molho de tomate não ficar aguado. Dispense a água que a berinjela soltar com uma colher. O Imam Bayildi fica mais gostoso se servido em temperatura ambiente ou até mesmo no dia seguinte! Os gregos costumam acompanhar o prato com queijo Feta. 

Arakás Ladheros (guisado de ervilhas)

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Um dia desses estava na Comunidade Grega de Brasília, ajudando na preparação da festa “Panighiri”, que acontece anualmente. Estávamos nós, algumas mulheres na cozinha, discutindo sobre comer carne ou não. Constatamos que na Grécia, é possível passar um bom tempo comendo apenas pratos vegetarianos, já que a quantidade é grande e todos são deliciosos.

Quanto mais os anos passam, menos vontade de comer carne eu vou tendo. Nesse quase um ano de Agregando Temperos, venho estudando e conhecendo cada vez mais sobre a culinária grega e tenho percebido que a carne não é imprescindível. Acho que, no fundo, eu sempre soube disso, mas foi só cozinhando para valer que me dei conta. Na Grécia, nós chamamos de Ladherá os pratos feitos essencialmente com vegetais e uma base de tomate e azeite de oliva. Alguns levam carne, é verdade, mas a grande maioria fica bem melhor sem.

Aqui no blog existe a categoria “Ladherá”, e lá estão várias receitas do tipo, para quem quiser se aventurar. A receita de hoje é super simples e saudável. O guisado de ervilhas ou “Αρακάς λαδερός – Arakás Ladheros” leva batata, cenoura e um bom molho de tomate. Segue a receita:

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 3 pessoas

Ingredientes:
– 1 pacote de ervilhas congeladas (você pode utilizar ervilhas frescas, se tiver a chance)
– 3 batatas grandes, cortadas em cubos
– 1 cenoura grande ralada ou cortada em rodelas
– 1 cebola média, cortada em cubos
– 2 tomates grandes, maduros, ralados + meia xícara de molho de tomate
– 2 copos de água
– 3 colheres de sopa de azeite de oliva, para refogar a cebola
– 1/4 de uma xícara de azeite de oliva extravirgem
– 1 pitada de açúcar
– Sal e pimenta, a gosto
– Salsinha picada, a gosto
– Endro/dill picado, a gosto (opcional)

Modo de preparo:
– Refogue a cebola nas 3 colheres de sopa de azeite de oliva até que fique transparente.
– Adicione as batatas e a cenoura. Refogue por alguns minutos em fogo médio.
– Em seguida, adicione os tomates ralados e o molho de tomate.
– Adicione as ervilhas, o restante do azeite, a água, o açúcar, o sal e a pimenta.
– Misture bem e refogue em fogo baixo por aproximadamente 30 minutos, sempre misturando para não grudar e adicionando um pouco de água, se necessário.
– Quando as batatas já estiverem cozidas e o molho estiver encorpado, adicione a salsinha e o endro (opcional). Misture bem e desligue o fogo.

Dica amiga:
Os pratos “Ladherá” costumam ser servidos com um bom pão de casca grossa, queijo Feta e, de preferência, em temperatura ambiente. Alguns pratos são até mesmo servidos frios e, mesmo assim, são uma delícia!

Feijão fradinho “kokkinisto”

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No domingo passado, nós gregos celebramos o “Domingo de Ramos”, marcando o início da nossa Semana Santa. Como de costume, minha família optou por não comer carne. Eu, que já não sou a maior carnívora do mundo, achei ótimo para colocar minha criatividade na cozinha em prática. Aqui em casa comemos pouquíssima carne (Tia Voula de Casamento Grego ficaria horrorizada), mas, em contrapartida, comemos muitos grãos. A receita de hoje é nova na família, mas, apesar disso, ela foi aprovada. Adaptei-a de um livro sobre os sabores da Grécia.

Como meu livro é de Portugal e o autor não indica os nomes em grego, eu chamaria esta receita de Φασόλια μαυρομάτικα κοκκινιστά (Fassôlia mavromátika kokkinistá). O termo “kokkinisto” significa literalmente “avermelhado”, ou seja, é um prato com uma base de molho de tomate. Pratos chamados assim são, geralmente, feitos com carne de vaca ou de cordeiro e servidos com arroz, batatas ou massa. Hoje resolvi dar uma inovada. Se você gosta de feijão, mas não aguenta prepará-lo sempre da mesma forma, vai adorar esta versão. É só me acompanhar:

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 250 g de feijão fradinho cozido (não muito mole)
– 1 cebola média, picada
– 3 dentes de alho, picados
– 2 tomates grandes, ralados
– Meia xícara de chá de polpa de tomate
– Orégano a gosto
– Cominho a gosto
– Páprica a gosto
– Salsinha a gosto
– 1 pitada de açúcar
– Sal e pimenta a gosto
– Folhas de endro (dill) a gosto, picadas (opcional)
– Meia xícara de chá de azeite de oliva extravirgem

Modo de preparo:
1.
Doure a cebola e o alho em metade da quantidade de azeite separada para a receita.
2. Quando tudo estiver transparente, adicione os tomates ralados e a polpa de tomate. Misture e deixe pegar fervura.
3. Tempere com o orégano, a páprica e o açúcar. Misture e deixe cozinhar em fogo baixo.
4. Quando a mistura estiver com uma cor vermelha vibrante, adicione o feijão fradinho cozido. Adicione o restante dos temperos: o cominho, o sal, a pimenta e o restante do azeite. Misture e deixe tudo cozinhar, mantendo o fogo baixo.
5. Cinco minutos antes de desligar o fogo, adicione a salsinha e o endro (opcional). Misture bem, desligue o fogo e é só servir!

Dica amiga:
Aqui no Brasil temos o costume de comer leguminosas com arroz. Você pode optar por esse acompanhamento ou servir o prato como “ensopado” e comer com um bom pão e fatia de queijo ou iogurte natural!

Kounoupidi Kapama (guisado de couve-flor)

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Não vou mentir: esta não é uma receita de família. Descobri este prato umas semanas atrás, tinha uma cabeça de couve-flor na geladeira e, em vez de fazer o clássico “no vapor”, optei por fazer algo diferente. E o mais incrível é que todo mundo amou. Para os gregos (ou para a Igreja Ortodoxa Oriental), hoje é a “Kathari Deftera”, ou seja, o primeiro dia da Quaresma. Por esse motivo, achei interessante compartilhar uma receita vegetariana. Não foi difícil escolher, já que os gregos possuem uma criatividade enorme e um grande repertório de pratos com a ausência de carne.

Ao longo da Quaresma, pretendo compartilhar mais receitas tradicionais da época mais importante do ano para os gregos, chegando, por fim, na nossa Páscoa (que tem rituais verdadeiramente bonitos). O prato de hoje é o Kounoupidi Kapama (Κουνουπίδι καπαμά – Kunupídhi Kapamá), um guisado de couve-flor que entra na categoria dos ladheráExistem alguns outros nomes para o prato como, por exemplo, Kounoupidi Kokkinisto ou Kounoupidi Yaxhni. Para mim, o ingrediente chave desta receita é a canela, pois ela realmente dá um toque especial (e o aroma que se espalha pela casa é uma coisa dos deuses). Você também pode optar por colocar batatas cortadas em cubos, se quiser transformar o prato em “prato principal”.

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 1h30

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 1 cabeça de couve-flor, lavada e cortada em buquês
– 1 tomate grande ralado
– 1 cebola cortadas em cubos (eu usei a roxa pois é mais aromática)
– 2 dentes de alho, picados
– Meia xícara de chá de polpa de tomate
– 1 pitada de açúcar
– Meia colher de chá de canela
– Páprica a gosto
– Salsinha a gosto
– Sal e pimenta a gosto
– 1 xícara de chá de água
– Meia xícara de chá de azeite de oliva extravirgem

Modo de preparo:
1.
Doure a cebola e o alho em um pouco de azeite. Tome cuidado para não queimar o alho. Adicione a couve-flor e refogue por mais ou menos 5 minutos.
2. Quando a couve-flor estiver amolecendo, adicione o tomate ralado, a polpa de tomate, o açúcar, a canela, a páprica, a salsinha, o sal, a pimenta, a água e o restante do azeite. Misture e deixe cozinhar em fogo baixo com a panela tampada.
3. Se a mistura estiver ressecando, adicione um pouco mais de água.
4. Como todos os pratos desta categoria, é importante que o resultado final seja: o ingrediente principal com um caldo de tomate encorpado. Portanto, desligue o fogo quando a couve-flor estiver cozida e os ingredientes tenham reduzido, mas, ao mesmo tempo, não estejam grudando no fundo da panela. O caldo precisa estar mais encorpado que uma sopa, por exemplo.
5. Sirva quente.

Dica amiga:
Se você preferir, sirva com o queijo de sua preferência e um bom pão para absorver todo o caldo que restar no prato. Adicionar batatas à receita transforma o prato em um ótimo “prato principal”. 

Yemista (vegetais recheados – versão vegetariana)

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O prato de hoje é um dos mais clássicos e queridos da dieta mediterrânea. Não tem como falar de comida grega e não lembrar do Yemista (ou seria da Yemista?). Se você não é grego e vai visitar uma família grega, este prato provavelmente estará presente na farta mesa de almoço ou jantar. Aliás, esse é mais um daqueles pratos que eu detestava quando era criança, já que o tomate assado ficava super mole e os temperos do arroz não me agradavam.

Yemista (Υεμιστά – Ghêmistá) é o famoso prato feito com vegetais recheados. Seu nome basicamente significa “recheados”. Ele também entra na categoria de pratos “ladherá”, pois são servidos e preparados com bastante azeite de oliva e polpa de tomate. Além disso, você pode rechear não só tomates, mas também: pimentões, abobrinhas, berinjelas, folhas de parreira e folhas de repolho (chamamos esses dois últimos de “dolmades”). Na Turquia, os vegetais recheados são conhecidos como “dolma” e as folhas recheadas como “sarma”.

Na culinária grega, costumamos rechear os vegetais com arroz, ervas secas e frescas, especiarias e carne moída, mas a versão vegetariana também é muito popular na Grécia. Ela pode levar uvas passas, pinoli, outros vegetais ralados e até grãos como lentilha ou grão-de-bico. As batatas assadas com os vegetais e a combinação de azeite e molho de tomate também acompanham. Para finalizar, como de costume, uma fatia de queijo Feta sempre cai bem. É um prato delicioso, saudável e que agrada quase todos os gostos. Vamos lá?

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 3 horas

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes (serve duas pessoas):
– 2 tomates bem grandes, os maiores que você achar (pode ser o caqui, por exemplo)
– 2 pimentões verdes
– Meia xícara de arroz branco (pode ser arbório, se quiser)
– 3 batatas descascadas, cortadas em tiras grossas
– 1 cebola grande, picada
– 2 dentes de alho, picados
– 1 abobrinha média, ralada
– 1 cenoura média, ralada
– Salsinha a gosto
– Hortelã fresca a gosto, picada
– 1 xícara de chá de polpa de tomate
– Orégano a gosto
– 1 pitada de canela
– Noz-moscada ralada a gosto
– Sal e pimenta
– Açúcar
– Sumo de meio limão
– Água
– 1 xícara de chá de azeite de oliva extravirgem

Modo de preparo:
1. 
Comece cortando a “tampa” dos tomates e dos pimentões. Não corte muito para cima e nem muito para o meio. Tire as sementes dos pimentões. Faça o mesmo com a polpa e miolo do tomate, mas reserve em uma tigela.
2. Em uma travessa untada com um pouco de azeite, organize os tomates e pimentões. Reserve as tampas.
3. Tempere as batatas com sal e orégano em uma tigela.
4. Para o recheio, refogue a cebola e o alho no azeite até que fiquem macios. Adicione a abobrinha e a cenoura. Refogue em fogo médio.
5. Adicione o arroz e refogue até que ele fique levemente transparente. Adicione a polpa e o miolo dos tomates que foram “cavados” e meia xícara de chá da polpa de tomate (reserve a outra metade).
6. Adicione a salsinha, a hortelã, o orégano, a canela, a noz-moscada, uma pitada de açúcar, o sal, a pimenta e uma xícara de água. Misture e cozinhe tudo em fogo baixo.
7. Quando o arroz estiver quase cozido (quase, pois ele vai cozinhar mais no forno), desligue o fogo.
8. Coloque um pouco de azeite, sal e açúcar dentro de cada tomate. Faça o mesmo com os pimentões, mas sem o açúcar.
9. Adicione a mistura do arroz dentro dos vegetais – recheie cada um em aproximadamente 1/3. O arroz vai crescer mais dentro do forno, então não é ideal rechear os vegetais até o topo, ou eles podem acabar quebrando.
10. Feche com as suas respectivas tampas e faça furinhos com um palito de dente em cada uma delas.
11. Despeje as batatas na travessa. Para que os pimentões fiquem “em pé”, organize-os nas laterais da travessa.
12. Misture o restante da polpa de tomate (meia xícara) com o sumo de meio limão e uma xícara de água. Regue as batatas com essa mistura e azeite de oliva a gosto.
13. Asse em forno médio por aproximadamente 50 minutos ou até que tudo esteja macio e cozido. Se for necessário, adicione mais água às batatas.

Dica amiga:
Este não é um prato “perfeito” em termos de aparência. É normal que os tomates rachem e que os pimentões caiam. A culinária grega não é sobre perfeição, mas sobre a harmonia dos sabores. E se sobrar recheio, é só comer ele por si só! É uma delícia. 

Fasolakia Ladherá (guisado de vagem)

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Para ser bem sincera, eu detestava vagem quando era criança. Eu quase sempre almoçava na casa da minha vó depois da aula. Quando chegava lá, tinha uma panela enorme desse prato que vou ensinar para vocês hoje. Era um verdadeiro sofrimento: eu não comia vagem, nem tomate cozido, e muito menos cebola. Aí eu fazia aquele bico, resmungava, fechava a boca, e minha avó falava naquele jeito de vó que só mima neto: “coitadinha, vou fritar um ovo para você comer!” – para a alegria do meu pai (só que não). Mas, ainda bem que a gente cresce e aprende a gostar de coisas diferentes (ou não, depende de cada um). Enfim, o que eu quero dizer é que com o tempo eu passei a adorar esse prato, que é um verdadeiro clássico grego.

Fasolakia Ladherá (Φασολάκια λαδερά – Fassolákia Ladherá) é um guisado de vagem com cebola, muito tomate e batatas. Na Grécia, nós chamamos de “Ladherá” os pratos que têm como base um molho com azeite de oliva (Ládhi – azeite, em grego), tomate e cebola (ou alho). Quase todos são vegetarianos e é por isso que são muito populares durante a Quaresma. Vários vegetais podem ser usados nesse tipo de prato, como, por exemplo: quiabo, ervilhas, espinafre, beringela, couve-flor, alcachofra, abobrinha, fava, pimentão, alho-poró, para nomear alguns.

Vou ensinar para vocês como esse é um prato super fácil de fazer, você só precisa de um pouco de tempo, pois, para ficar gostoso mesmo, ele precisa ser preparado em fogo baixo. Além disso, usar um azeite de oliva extravirgem de boa qualidade é muito importante (não precisa ser grego, haha!). E se você é vegetariano, tenho certeza que vai amar mais ainda! Então, vamos lá!

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 1h30

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 1 kg de vagem, limpa
– 2 tomates grandes, ralados
– 1 cebola grande, picada
– 2 dentes de alho, picados
– Meia xícara de chá de polpa de tomate
– 1 pitada de açúcar
– 1 xícara de chá de azeite de oliva extravirgem
– 1 xícara de água
– 2 batatas grandes, cortadas em cubos grandes
– 1 cenoura, cortada em rodelas grandes (opcional)
– 1 pitada de orégano
– Sal e pimenta a gosto
– Salsinha a gosto

Modo de preparo:
1. 
Refogue a cebola em meia xícara de azeite de oliva até que fique transparente. Adicione o alho e continue refogando.
2. Quando o alho estiver macio, junte a vagem, as batatas, a cenoura (se quiser) e continue refogando em fogo médio.
3. Adicione os tomates ralados, a polpa de tomate, o açúcar, o sal, a pimenta, o orégano e misture.
4. Junte a água e refogue em fogo baixo até que os ingredientes fiquem macios.
5. Caso a mistura ressecar demais, adicione um pouco mais de água.
6. Adicione a salsinha e o restante do azeite de oliva e deixe cozinhando até que caldo fique grosso.
7. Desligue o fogo e sirva com pão.

*Como já falei aqui antes, os gregos costumam dispensar o arroz e comer a maioria de seus pratos com pão (de preferência pão caseiro). O pão absorve os sucos deste tipo de comida e auxilia na hora de limpar o prato. Mas, caso você preferir, pode comer com arroz também. Além disso, este prato costuma ser servido com queijo Feta, mas, como ainda não podemos achar essa maravilha nos mercados brasileiros, vamos ter que ficar sonhando com esse ingrediente essencial para a culinária grega!

Lahanorizo (arroz com repolho)

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O Lahanorizo (Λαχανόρυζο – Larranôrizo) é um prato grego muito comum no inverno e muito, muito fácil de fazer. É um prato vegetariano – arroz com repolho e temperos – e serve como prato principal. Na minha família, nunca tivemos o costume de comer esse arroz, mas, conversando com a minha vó esses dias e lendo alguns livros de receita, concluí que era hora experimentar!

A ideia é que ele fique molhadinho, igual um Pilaf – popular no Oriente Médio. Primeiro, o arroz tipo Pilaf costuma ser refogado com cebola e outros ingredientes da receita até que fique transparente. O líquido (água ou caldo) é adicionado depois. A receita original do Lahanorizo leva endro, mas como não tinha em casa, eu fiz sem. Eu também não sou muito fã de endro, mas os gregos costumam usar muito. Se você quiser fazer a receita como um bom grego, vai fundo!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 1 xícara de chá de arroz branco
– 4 xícaras de chá de repolho lavado e picado grosseiramente
– 1 cebola pequena, em cubos
– 2 dentes de alho, picados
– 1 colher de sopa de polpa de tomate
– 3 xícaras de chá de água ou caldo de legumes
– Sal e pimenta a gosto
– 2 colheres de sopa de azeite de oliva extravirgem
– Páprica a gosto
– Azeite de oliva para finalizar

Modo de preparo:
1.
Refogue a cebola e o alho no azeite até que fiquem transparentes e em seguida adicione o repolho picado.
2. Cozinhe o repolho em fogo baixo até que fique macio. Adicione o arroz e continue refogando, sempre mexendo para que não grude no fundo da panela.
3. Adicione o sal, a pimenta e a polpa de tomate e misture.
4. Em seguida, adicione a água ou o caldo, misture e deixe ferver em fogo médio.
5. Caso precisar, adicione mais água.
6. Quando o arroz estiver praticamente cozido e quase ressecando, desligue o fogo e tampe a panela. O calor vai cozinhar o arroz e secar o restante da água.
7. Sirva com um fio de azeite de oliva e páprica a gosto.