Keftedes me saltsa domata (almôndegas ao molho de tomate e cogumelos)

Almôndegas

Como já contei aqui, ano passado embarquei em uma aventura solo à ilha de Lesvos, local em que minha avó materna nasceu. Eu estava completamente nervosa. Não conhecia meus parentes de lá, sabia que o dialeto era diferente e, como era dezembro – quase inverno – achava que eles iriam odiar minha visita “fora de época”.

A confirmação de que sou excelente em ser ansiosa e achar que tudo dará errado – mas, na realidade, nada de tão ruim acontece – veio em seguida: fui recebida com abraços apertados, minha prima tentando estabelecer o maior papo comigo, uma cama quentinha (alô, saudades, 2 graus!) e dias e dias de refeições fartas (até demais). Ainda bem que o vilarejo tem várias ladeiras!

E foi lá que provei as melhores almôndegas ao molho de tomate do mundo! As almôndegas mais macias e saborosas que já tive o prazer de experimentar – como tudo que a minha tia fazia, sempre com muito amor e fartura. Resolvi testar a receita em casa, já que, para a minha felicidade, tinha um saquinho cheio de pimenta-da Jamaica, muito utilizada na Grécia nos ensopados de carne (Stifado, o mais famoso deles). Adicionei cogumelos já que estamos na temporada e pronto! E aí… vai encarar?

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 1h30

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:

Para a carne:
– 600 g de carne moída
– 2 colheres de sopa de azeite de oliva
– Sal e pimenta, a gosto
– 1 colher de chá de canela em pó
– 1 colher de chá de cominho
– 1 colher de chá de orégano seco
– 1/2 xícara de chá de farinha de rosca
– 1 xícara de chá de farinha de trigo
– Azeite para fritar

Para o molho:
– 1 cebola grande, picada
– 2 dentes de alho, picados
– 200 g de cogumelos limpos e cortados em fatias (eu usei shiitake)
– 1 lata de tomates pelados, cortados em cubos
– 1 xícara de chá de água
– 1 tomate grande, ralado
– 3 colheres de sopa de vinho tinto seco
– Azeite para refogar
– Sal a gosto
– Pimenta-da-Jamaica inteira, a gosto
– Um punhado de salsinha fresca picada
– 1 pitada de açúcar

Modo de preparo:
1. 
Comece temperando a carne. Em uma tigela, junte a carne moída, o azeite, o sal e a pimenta, a canela, o cominho, o orégano e a farinha de rosca. Misture bem com as mãos até formar uma massa homogênea. Reserve na geladeira por meia hora.
2. Para o molho, comece refogando a cebola e os dentes de alho no azeite até dourarem levemente.
3. Junte os cogumelos e continue refogando. Tempere com sal a gosto.
4. Adicione o vinho tinto e refogue por mais cinco minutos.
5. Junte os tomates pelados, a pitada de açúcar, a água e a pimenta-da-jamaica. Aumente o fogo até pegar fervura.
6. Continue cozinhando em fogo baixo até o molho engrossar.
7. Desligue o fogo e junte a salsinha picada. Misture e reserve.
8. Regue uma frigideira com mais ou menos um dedo de azeite. Aqueça.
9. Faça bolinhas com a carne do tamanho da uma bola de golfe. Enrole as bolinhas na farinha de trigo.
10. Quando o azeite estiver quente, disponha uma porção de bolinhas na frigideira. É importante não encher a frigideira para o azeite não esfriar. Frite em pequenas porções.
11. Frite as almôndegas de todos os lados, mas sem deixar que cozinhem por completo.
12. Quando estiverem prontas, coloque-as em um prato com papel toalha.
13. Assim que terminar de fritar as almôndegas, despeje-as no molho e deixe que cozinhem por mais 5 minutos.

Dica amiga: Em vez de massa, sirva as almôndegas com purê de batatas ou arroz soltinho! Garanto que fica uma delícia. Se você realmente preferir uma massinha, selecione tipos mais curtos, como farfalle ou penne.

Bolo de especiarias com nozes e pistache

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Se tem uma coisa que eu tenho feito ultimamente, essa coisa é bolo. Semana vai, semana vem, escolho um dia para preparar um bolo diferente. Não só por amar café com bolo, mas por adorar presentear pessoas queridas com uma, duas, várias fatias… isso é, quando a receita dá certo! Além disso, na minha opinião, uma casa com cheiro de bolo é uma casa mais feliz.

Quando voltei de Istambul ano passado, trouxe comigo muitas memórias. Pistache em abundância, doces árabes, senhores me oferecendo amostras de seus produtos e até chá do amor, montanhas de especiarias em cada bazaar descoberto… fiquei encantada com aquele mundo de aromas, sabores e sons.

Assim, para não perder o costume, resolvi inventar na cozinha. Joguei tudo que encontrei na despensa e que combinaria minimamente em uma receita de bolo – pistache, nozes, especiarias, suco de laranja, licor… e olha, deu certo! Se você procura um bolo absurdamente aromático, aqui é o seu lugar. Sinta-se livre para adicionar outros ingredientes como passas, ameixas, amêndoas, damasco e o que mais você desejar!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 8 pessoas

Ingredientes:
– 1 xícara e meia de chá de farinha de trigo
– 1 xícara e meia de chá de açúcar orgânico (de preferência mascavo)
– 1 xícara de óleo vegetal
– 3 ovos
– 1 colher de sopa de fermento em pó
– 1 xícara de chá de suco de laranja
– 2 colheres de chá de canela em pó
– 1 colher de chá de noz-moscada
– 3 colheres de sopa de licor de sua preferência
– 1 punhado de nozes picadas
– 1 punhado de pistaches descascados e picados
– Manteiga e cacau em pó para untar a forma

Modo de preparo:
1. 
Comece preaquecendo o forno a 180 graus.
2. Enquanto isso, junte o óleo, os ovos e o suco de laranja num liquidificador. Bata tudo muito bem durante 2 minutos.
3. Em uma tigela, junte a farinha de trigo, o açúcar, a canela e a noz-moscada. Misture.
4. Despeje a mistura líquida na mistura seca, misturando lentamente até obter uma massa homogênea.
5. Adicione o licor, as nozes e os pistaches. Misture.
6. Por fim, adicione o fermento em pó e misture bem.
7. Unte uma forma para bolo como um pouco de manteiga e cacau em pó, tomando cuidado para retirar o excesso.
8. Despeje a massa na forma e asse em forno médio durante 40-45 minutos, ou até que o bolo esteja cozido.

Com amor, Moussaka

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O que dizer sobre este prato recheado de história que todo mundo ama e considera pacas? É difícil (ou até fácil demais) falar sobre o Moussaka (μουσακάς – moussakás), mas me dei essa liberdade já que amanhã comemoramos o “25 de março”, feriado nacional mais conhecido como uma comemoração da guerra da independência da Grécia contra o Império Otomano.

Talvez você conheça essa famosa “lasanha” por ela ser amplamente associada à Grécia. Talvez você a conheça como a fonte de muitas zoeiras à Toula Portokalos, a querida protagonista do filme “Casamento Grego” (cês lembram do “moose-caca”, né?). Eu conheço o Moussaka como um prato trabalhoso que cresci detestando por conter horrores de berinjela – até porque nem tudo são flores – e por morrer de dor no braço na hora de mexer o bechamel a pedido do meu pai.

Mas… ainda bem que a gente cresce, né? Hoje posso dizer que “amo muito tudo isso”. Mais ainda depois de ter conhecido e provado o Moussaka em sua versão turca e, desculpe o bairrismo, achar o nosso mil VEZES melhor! Gregos: tenham orgulho de seu Moussaka. A explosão de sabores é incomparável, ainda que na hora do vamo-vê na cozinha dê um pouco mais de trabalho. É por isso que hoje apresento a você um dos maiores símbolos da culinária grega – símbolo que as pessoas cansaram de me pedir – numa versão simplificada mas com um toque de família, inspirada no conteúdo do deus grego Akis Petretzikis.

Me acompanhe nessa aventura!

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 3 horas (ufa!)

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:

Base de vegetais:
– 2 berinjelas grandes, cortadas em rodelas médias
– 2 abobrinhas grandes, cortadas em rodelas médias
– 3 batatas grandes, cortadas em rodelas médias
– Sal e pimenta, a gosto
– 1/2 xícara de chá de azeite de oliva
– Orégano, a gosto

Molho de carne moída:
– 600 g de carne moída
– 1 cebola média, picada em cubos
– 2 dentes de alho, picados
– Sal e pimenta, a gosto
– 3 colheres de sopa de azeite de oliva
– 1/2 colher de chá de canela em pó
– 1/2 colher de chá de noz-moscada
– 1/2 colher de chá de cominho
– 1/2  colher de chá de açúcar
– 3 colheres de sopa de vinho tinto seco
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca, picada
– 1 lata de tomates pelados
– 1/2 xícara de chá de água

Molho bechamel:
– 4 colheres de sopa de manteiga
– 4 colheres de sopa de farinha de trigo
– 1 litro de leite
– Pimenta, a gosto
– Noz-moscada, a gosto
– 1 xícara de chá de queijo parmesão ralado + para finalizar

Modo de preparo por etapas:

Base de vegetais:
1. Para começar, unte uma travessa média com um pouco de azeite de oliva. Preaqueça o forno a 200 graus.
2. Em uma tigela, junte as rodelas de batata, o sal, a pimenta, o orégano e mais um pouco de azeite. Misture bem e espalhe-as na travessa. Asse as batatas até que estejam levemente cozidas e macias (aproximadamente 20 minutos).
3. Repita o processo com as berinjelas. Junte as rodelas numa tigela, tempere com o sal, a pimenta, o orégano e um pouco de azeite. Espalhe-as por cima das batatas e asse-as até que estejam cozidas.
4. Agora, as abobrinhas! Junta as rodelas numa tigela, tempere com o sal, a pimenta, o orégano e um pouco de azeite. Misture bem e espalhe-as por cima das berinjelas. Asse-as até que estejam macias.

Molho de carne moída:
5. Em uma panela grande, refogue a cebola no azeite. Adicione o alho, a canela, o cominho e a noz-moscada. Misture bem e continue refogando.
6. Adicione a carne moída. Refogue. Adicione o vinho tinto. Refogue por mais ou menos 5 minutos.
7. Adicione os tomates pelados, a água e o açúcar. Deixe cozinhar lentamente em fogo baixo.
8. Quando o molho estiver bem grosso (menos líquido, melhor), tempere com sal, pimenta e salsinha fresca. Reserve.

Molho bechamel:
9. Em uma panela, em fogo médio, adicione a manteiga e espere derreter.
10. Adicione a farinha de trigo e misture bem sem parar até que tudo esteja bem incorporado e borbulhando levemente.
11. Adicione o leite aos poucos e sem parar de mexer, para que a mistura fique bem incorporada e não empelote.
12. Quando o molho começar a borbulhar e já estiver grosso, desligue o fogo.
13. Adicione a pimenta, a noz-moscada e o queijo parmesão ralado. Misture bem e reserve.

Montagem:
14. Na travessa em que os vegetais estão, espalhe o molho de carne moída (por cima dos vegetais), pressionando levemente para que o Moussaka fique firme e compacto.
15. Adicione o molho bechamel, espalhando muito bem por cima da carne.
16. Salpique mais um pouco de parmesão ralado e asse em forno médio por aproximadamente 35 minutos, ou até gratinar.
17. Quando estiver pronto, espere o Moussaka esfriar. Fica muito mais fácil de cortar em pedaços firmes (e bem mais gostoso) quando ele está em temperatura ambiente!

Dica amiga:
Nossa, Heleni, depois desses 17 passos ainda tem dica amiga? Tem sim! A minha dica de ouro é: não ignore a canela. Não ignore o vinho. Não ignore o cominho. O tempero no Moussaka faz toda a diferença. Para uma versão vegetariana, basta pular o passo da carne moída. Para uma versão mais calórica, basta fritar os vegetais em azeite em vez de assá-los. Você que escolhe. Valendo… já!

Salada de grão-de-bico com molho de ervas e limão

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Que eu adoro salada, não é novidade! Aprendi, desde pequena, com as poucas opções que tínhamos nos mercados. A tarefa de fazer a salada era, quase sempre, colocada em minhas mãos. Eu tinha medo de usar faca e pouca criatividade – misturava alface, tomate e pepino. De vez em quando colocava cenoura ralada. O luxo da casa era o brócolis! Quando tinha, eu quase comia a tigela todinha. Nunca fui egoísta, mas era só colocar um brócolis na minha frente que… Falando nisso, tem mais alguém #teambrócolis por aqui?

Eu fiz a receita de hoje numa noite em que estava sozinha e com MUITA vontade de comer uma salada diferentona. Já tinha grão-de-bico cozido no congelador. Misturei o que tinha de saudável na geladeira e foi pá-pum, nas palavras de Rita Lobo. Temperei e deixei descansando na geladeira por algumas horinhas e foi isso aí – uma salada saborosa para suprir minhas necessidades de salada saborosa na semana. Para aqueles que querem outras receitinhas de salada nesse mesmo formato (formato tabule, como eu chamo), confiram a salada colorida de trigo em grão ou a categoria saladas aqui do blog. Vamos lá!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 20 minutos + 2 horas de descanso
*Serve, em média: 8 pessoas

Ingredientes:
– 500 g de grão-de-bico cozido, al dente
– Meio alho-poró, cortado em rodelas finas
– Meio pimentão vermelho, cortado em cubos
– Meio pimentão amarelo, cortado em cubos
– 1 pepino japonês grande, cortado em cubos
– 1 tomate grande, cortado em cubos

Para o molho de ervas:
– 2/3 de xícara de chá de azeite de oliva
– Cebolinha picada, a gosto
– Salsinha picada, a gosto
– 1 colher de sobremesa de orégano seco
– Sal e pimenta, a gosto
– Suco de um limão médio

Modo de preparo:
1. 
Em uma tigela grande, junte o grão-de-bico cozido, o alho-poró, os pimentões, o pepino e o tomate.
2. Misture bem e reserve.
3. Em uma tigela pequena, adicione o azeite, o suco de limão, a cebolinha, a salsinha, o orégano, o sal e a pimenta. Misture tudo muito bem.
4. Despeje o molho por cima da salada, misture tudo lentamente.
5. Reserve a salada na geladeira por pelo menos duas horas, para apurar o sabor.

Berinjelas e abobrinhas no azeite

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Senta aqui. Vamos bater um papo? Assim, como amigos. O que é liberdade pra você? Você sente que tem autonomia na sua vida? Liberdade, pra mim, é dizer “não”; “não gosto”, “não quero”, “não posso”. Pois é, ando pensando muito sobre isso nos últimos tempos e como liberdade/autonomia podem fazer parte de diversos aspectos da nossa vida.

Sabe aquele velho meme do não conseguir dormir porque estamos pensando/procurando inutilidades no Google/relembrando as babaquices que falamos para aquele crush há 5 anos? Então! Eu fiquei assim depois de assistir a essas duas entrevistas da M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A da Paola Carosella (assiste aí, vai).

Liberdade é escutar suas vontades, cortar aquilo que te faz mal, viver uma vida sem falar “talvez” pra tudo; aquelas relações meia-boca, gente que não se importa contigo, fazer aula de natação quando, na verdade, você queria dançar flamenco, comer pão fit  de manhã quando a vontade mesmo é de um cuscuz com ovo mexido.

É, dizer “sim” e “não” também está presente na nossa relação com a alimentação. “Mas, por que você tá falando isso, miga? Me explica”. Explico! Você já passou dias seguidos só almoçando em restaurantes? Ou comendo “porcaria” por dias a fio? O que você sentiu depois disso? Bom, eu já senti uma vontade louca de comida caseira, de feijão e arroz, de saladas bem coloridas, de sentir o cheiro do alho nos meus dedos. Meu corpo queria aquilo. Eram as minhas vontades. Agora me diz: se sua vontade é comer uma bela macarronada naquele almoço, por qual motivo você vai escolher peito de frango com duas lascas de pepino? Cê tá me entendendo? Não é exagerar, é ouvir o que o seu corpo está pedindo.

Desde cedo nos ensinam a esconder nossos sentimentos, nossas vontades. Não pode chorar, não pode se incomodar, não pode demonstrar demais, não pode usar listras na horizontal porque engorda, não pode comer isso, não pode comer aquilo. Quando crescemos, não sabemos lidar com tudo isso; nos frustramos e acabamos vivendo uma vida no automático.

Por favor, comece se autoconhecendo – até mesmo no âmbito da alimentação. O que você gosta de comer? O que estaria disposto a provar? E a cozinhar? Tire tempo pra aprender a cozinhar o que gosta, procure receitas com carinho. Cozinhar não é só um ato de amor para com os outros, mas é, também, um autocuidado.

A receita de hoje é super tranquila! Eu estava com vontade de comer abobrinhas fritas – tipicamente servidas empanadas como mezedes na Grécia – mas, acabei juntando berinjelas, alho, temperinhos e… aqui está! Um ótimo acompanhamento para qualquer almoço de verão.

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 40 minutos

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 3 abobrinhas médias
– 3 berinjelas médias
– Azeite de oliva, para fritar + temperar
– 6 dentes de alho inteiros, descascados
– Sal e pimenta, a gosto
– Páprica doce, a gosto

Modo de preparo:
1. 
Corte as abobrinhas e as berinjelas em rodelas médias. Reserve.
2. Tempere com sal, pimenta e azeite. Misture bem para que todas as rodelas fiquem bem temperadas e cobertas em azeite.
3. Em uma frigideira média, frite as abobrinhas e berinjelas com um pouco de azeite. Frite em fogo médio até que estejam bem douradas.
4. Adicione os dentes de alho descascados, frite por mais alguns minutos até que dourem.
5. Tempere com mais pimenta a gosto e páprica doce. Agora é só servir!

Kotopita (torta folhada de frango com iogurte)

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Eu sempre tive uma dificuldade enorme em lidar com mudanças. Logo a minha vida, que tá sempre mudando! Amigas diriam que é porque sou taurina, pé no chão, teimosa, paciente, não gosta de muita novidade… pode até ser (não sei, tenho lua em aquário). No meio desse caos todo que é a minha vida (de vez em quando), percebi que já se passaram quase dois anos desde um divisor de águas que me fez perceber que mudar é bom. Que arriscar é preciso. Que provar coisas novas é necessário.

Há quase dois anos terminei um relacionamento tóxico. Eu implorava para sair daquilo, mas não sabia como. Nunca vivia novidades, apenas ciclos. Ciclos que doíam, me rasgavam o peito, me adoeciam, inchavam meus olhos. Logo com ele, que sempre falou que era importante arriscar! Mas era sempre a mesma dor, que ia se espalhando por todo o corpo como uma somatização qualquer. Num dia chuvoso essa semana, percebi que estava tudo bem. Eu coloquei um ponto final para me encontrar de novo. Eu mudei, e mudar é bom. Eu arrisquei tantas vezes desde que me despedi dele. Quantas vezes me achei boba por me mostrar vulnerável. Hoje vejo que ser vulnerável é ser forte. Transformei toda raiva e dor em vontade de conhecer os meus desejos mais profundos e perdoei. Afinal, foi no meio daquele furacão todo que decidi escrever por aqui, por mim.

Mas… então amiga, como isso tá relacionado à comida grega? Ah amigos, o prato de hoje é novidade até para mim. Arrisquei mesmo e ficou uma delícia. Quem disse que toda torta folhada grega tem que ser do mesmo jeito? A vida é curta demais para isso! Novidades e experiências novas servem para nos mostrar o que gostamos e o que não gostamos. E sei lá… vai que vocês gostam dessa torta diferentona também! Bora arriscar? Confiram a receita:

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 1h15

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 1 pacote de massa folhada descongelada
– 500 g de peito de frango em cubos pequenos
– 1 cebola média picada
– 4 dentes de alho ralados
– 3 colheres de sopa de vinho branco
– 1 tomate grande picado
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca picada
– 1 xícara de chá de farinha de arroz flocada cozida (ou arroz cozido)
– 1 colher de sopa de orégano
– Noz-moscada a gosto
– Sal e pimenta a gosto
– 1 colher de chá de cominho
– 1 pote de iogurte natural ou coalhada seca
– 1/2 xícara de chá de queijo ralado (de sua preferência)
– 2 colheres de sopa de azeite de oliva
– Manteiga suficiente para untar a travessa e pincelar a massa
– Farinha de trigo, para abrir a massa
– Gergelim a gosto (para polvilhar)

Modo de preparo:
1. 
Comece preparando o recheio. Em uma panela, refogue a cebola e os dentes de alho no azeite até que fiquem dourados.
2. Em seguida, adicione os cubos de frango e o vinho branco. Espere até refogar.
3. Tempere com orégano, noz-moscada, sal, pimenta e cominho. Misture bem.
4. Adicione o tomate picado, a salsinha e a farinha de arroz cozida (ou arroz cozido). Misture bem e deixe cozinhar em fogo baixo por mais 5-7 minutos.
5. Em seguida, desligue o fogo e adicione o iogurte natural e o queijo ralado. Misture e reserve.
6. Unte uma travessa de sua preferência e preaqueça o forno a 180º C.
7. Retire a massa do pacote e corte-a na metade. Pegue um dos pedaços e abra com um rolo de massa, adicionando um pouco de farinha para auxiliar no processo.
8. Acomode essa metade no fundo da travessa. É importante que sobre um pouco de massa nos cantos da travessa para a hora de fechar a torta.
9. Adicione o recheio e espalhe bem.
10. Repita o passo número 7 com o outro pedaço da massa folhada.
11. Cubra o recheio com a outra metade da massa, dobrando as laterais da torta.
12. Pincele a torta com manteiga e salpique gergelim a gosto.
13. Leve ao forno preaquecido em temperatura média durante 45 minutos ou até que a torta esteja dourada e a massa cozida.

Kourambiedes do Tio Kosta (biscoitos amenteigados gregos)

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A receita de hoje, eu diria, é a mais esperada do blog. Sim, da história do blog! Em quase dois anos escrevendo por aqui, perdi a conta de quantas vezes me pediram o modo de preparo detalhado dessas belezuras açucaradas, o que me fez pensar que elas são realmente muito amadas. E sabe o motivo? É que estes biscoitinhos, moldados em diversos formatos, carregam consigo um bocado de história. Acho que todo grego desse mundo tem alguma memória envolvendo os Kourambiedes. De repente era a avó que fazia, ou os primos que levavam um prato cheio nas visitas, ou mesmo é a lembrança de moldar os biscoitos semanas antes do Natal.

Para mim sempre foi uma mistura disso tudo. Eu adorava ver minha avó fazendo os biscoitos e ela sempre me dava a oportunidade de moldar alguns (e comer uns pedacinhos da massa crua). Depois tinha a mágica de sentir o cheiro delicioso dos biscoitos pela casa e polvilhá-los com açúcar de confeiteiro – pareciam floquinhos de neve! Como um tradicional biscoito de Natal, em minhas viagens para a Grécia, eu ficava encantada com a quantidade absurda, os quilos e quilos que ficavam à mostra nas dezenas de confeitarias da rua comercial perto de casa.

Claro, como é de se esperar, cada pessoa tem a sua preferência. A minha amiga Karla adora os biscoitos da minha avó – e ela tem as suas próprias lembranças relacionadas a eles. Já meu pai, gosta dos Kourambiedes sem o açúcar de confeiteiro. Minha avó não coloca suco de laranja na versão dela. Já a versão de hoje – a qual eu aprendi com o meu tio Kosta, lá de São Paulo – leva raspas de laranja e Ouzo (bebida destilada grega).

Preparados, vendidos e oferecidos tradicionalmente nas festas de fim de ano, os Kourambiedes (κουραμπιέδες – kúrambiêdhes) são biscoitos amanteigados com nozes ou amêndoas. Como muitos pratos típicos gregos, cada família tem a sua própria receita e é possível encontrá-los em diversos tamanhos, formatos e tipos – da última vez que fui à Grécia, encontrei Kourambiedes recheados com mousse de chocolate! E aí, se animou? Então mão na massa!

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 3 horas

*Rende, em média: 60 unidades médias

Ingredientes:
– 400 g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
– 700 g de farinha de trigo + extra
– 2 ovos grandes, levemente batidos
– 1 xícara de açúcar refinado
– 2 colheres de sobremesa de essência de baunilha
– 2 colheres de sopa de Ouzo ou conhaque
– 1 xícara de chá de nozes trituradas
– Sumo de uma laranja
– Raspas de uma laranja
– 1 colher de sopa de fermento químico
– Açúcar de confeiteiro, para finalizar

Modo de preparo:
1. 
Bata a manteiga com uma batedeira até amolecer. Em seguida, adicione os ovos e continue batendo.
2. Quando a manteiga estiver bem macia, adicione o açúcar, a baunilha e o Ouzo ou conhaque. Continue batendo até a mistura ficar homogênea.
3. Depois, adicione o sumo e as raspas de laranja e as nozes trituradas. Bata continuamente.
4. Em uma tigela, peneire a farinha e adicione o fermento químico. Misture tudo e adicione aos poucos à tigela com a manteiga. Se você utilizar uma batedeira planetária, certifique-se de que está usando a pá para massas médias (biscoitos, etc). Caso contrário, junte a farinha aos poucos com uma colher e misture com a mão mesmo até dar o ponto certo.
5. Ponto da massa: ela deve parecer massinha de modelar e não pode ficar grudenta. Se necessário, ajuste o ponto adicionando mais farinha.
6. Preaqueça o forno a 180°C. Unte assadeiras grandes ou cubra-as com papel manteiga. Molde os biscoitos da forma que desejar – com a mão ou com cortadores de biscoito – e ajuste-os nas assadeiras.
7. Asse os biscoitos em forno médio durante 20 minutos ou até que fiquem douradinhos. Quando estiverem prontos, deixe que esfriem e polvilhe açúcar de confeiteiro.

Dica amiga:
Na hora de fazer os Kourambiedes, experimente adicionar amêndoas trituradas na massa! 

Makaronia me saltsa tomatas (macarrão com molho de tomates frescos)

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Hoje, enquanto cozinhava um prato para o almoço – que aparecerá por aqui em breve – pensei: simplicidade é tudo. Na vida, nas relações e na comida. Preparei um ensopado de batatas que leva molho de tomate caseiro e batatas (além de temperos, é claro) e, naquela simplicidade toda, percebi que havia tanto sabor, tanta profundidade, tanto amor. Há coisas na vida que simplesmente se encaixam, sem precisar de muito esforço.

É o caso da receita de hoje – muito simples, coisa bem básica, fácil de fazer, mas que tem gosto de conforto. Makaronia me saltsa tomatas (Μακαρόνια με σάλτσα ντομάτας – makarônia me sáltsa tomátas) é o macarrão ao sugo da Grécia (com seus tomates doces como figos no verão). Por lá, nós costumamos colocar bastante Mizithra (queijo branco grego) ou Kefalotyri na massa e isso dá todo um sabor especial ao prato. Como não temos estes queijos por aqui, proponho que você experimente o prato com queijo branco ralado ou ricota desmanchada. Fica bom d-e-m-a-i-s!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 40 minutos

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 1 pacote de espaguete
– 5 dentes de alho, picados
– 6 tomates grandes maduros, em cubos
– 1 colher de sopa de orégano
– 1 copo americano de água morna
– 1 colher de sopa de vinho tinto seco
– 1 colher de sopa de azeite de oliva
– Salsinha fresca picada, a gosto
– 1 colher de chá de pimenta calabresa
– Folhas de manjericão, a gosto
– Sal a gosto
– 1 pitada de açúcar
– 1 colher de sopa de manteiga
– Queijo branco ralado ou ricota desmanchada, para servir

Modo de preparo:
1. 
Comece pelo molho. Em uma panela refogue o alho no azeite de oliva até dourar.
2. Adicione os tomates, a água morna, o vinho, o orégano, a pimenta, o sal e o açúcar. Espere até ferver e abaixe o fogo.
3. Enquanto isso cozinhe a massa de acordo com o pacote. Atenção para que ela fique al dente.
4. Quando o molho estiver encorpado, adicione a salsinha e o manjericão. Misture bem e adicione massa cozida à panela do molho.
5. Adicione a manteiga, misture bem e sirva quente com bastante queijo branco ralado!

Dica amiga:
E a dica de ouro para os pratos gregos é… Quanto mais maduros os tomates, melhor! Lembre-se disso na hora de preparar seu molho de tomate caseiro.

Briam (vegetais sortidos assados)

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A receita de hoje é mais uma da série “eu detestava comer isso na infância” – detestava, sim, no passado. Hoje considero este um dos pratos mais fáceis e versáteis da culinária grega. Como diz a diva Rita Lobo: “é pá pum!”. Abra qualquer livro de culinária grega e Briam aparecerá logo no início da categoria Ladherá.

Apesar de algumas pessoas (inclusive em muitos livros de receitas) chamarem este prato, carinhosamente, de Tourlou Tourlou (tradução livre: tudo junto e misturado), eu sempre o conheci como Briam ou Briami (Μπριαμ – Briám). Digamos que esta seja a nossa versão do clássico ratatouille – muitos vegetais, muito azeite, muito tomate… tudo junto e misturado! Garanto que é super tranquilo de preparar. Você pode servi-lo como prato principal ou como acompanhamento e, ainda, adicionar outros ingredientes como cogumelos, quiabo, vagem, etc. Seja criativo e me acompanhe!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1h30

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 6 batatas médias, cortadas em pedaços grossos
– 2 abobrinhas, cortadas em rodelas
– 1 berinjela grande, cortada em rodelas (opcional)
– 1 cebola roxa, cortada em pedaços grandes
– 2 dentes de alho, ralados
– 1 pimentão vermelho médio, cortado em tiras
– 1 alho-poró médio, cortado em rodelas (opcional)
– 3 tomates grandes, ralados
– 1 colher de chá de orégano
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca picada
– Sal e pimenta, a gosto
– 1/2 xícara de chá de azeite de oliva extravirgem + extra
– 1/2 copo americano de água morna

Modo de preparo:
1. 
Em tigela grande, misture as batatas, as abobrinhas, a berinjela, a cebola, o pimentão, o alho-poró e os dentes de alho ralados.
2. Tempere tudo muito bem com o orégano, a salsinha fresca, o sal e a pimenta. Misture.
3. Despeje os vegetais em uma travessa grande, adicione os tomates ralados e o azeite de oliva. Misture bem e adicione a água morna.
4. Leve ao forno preaquecido e asse em forno médio durante 50 minutos ou até que tudo esteja bem cozido e macio.
5. Retire do forno e regue com um pouco mais de azeite. Agora é só servir!

Dica amiga:
Vale a pena esperar um pouquinho para saborear 
Briam em temperatura ambiente ou, se preferir, no dia seguinte – isto é, claro, com bastante pão para absorver o caldinho!

Ellinikos Kafés (café grego)

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Quantas vezes você se lembrou de alguém querido ao fazer uma refeição? Ou ao preparar um prato específico? Aposto que muitas. Eu também. O post de hoje foi especialmente difícil de escrever. Escrevi, apaguei, reescrevi… muitas e muitas vezes. Tudo porque café grego me faz pensar em meus avós, meus bisavós, meus trisavós e assim por diante. São tantas as histórias que sinto que vivi coisas que, na verdade, nunca vivi. O café grego é uma ponte para o passado e uma expressão de amor.

Dia 23 recebemos a ligação. De madrugada, pappous Georgios nos deixou. Justamente na semana que estava ensaiando fazer esta postagem, acabei não dando conta. Não sabia se escrevia ou se chorava (ou os dois). Para piorar, acabei assistindo O Tempero da Vida de novo, o que ativou o botão “poça de lágrimas”. Então, uma frase do filme me fez pensar e resumiu as longas conversas que tive com meu avô: “No céu há coisas que nós podemos ver, mas há também coisas que não podemos ver. Fale sempre sobre as coisas que outros não podem ver. As pessoas gostam de ouvir histórias sobre coisas que elas não podem ver”.

Pois bem. O café grego, para mim, sempre falou sobre coisas que nunca pude ver. É a minha conexão com os meus antepassados. Na infância, eu não bebia café, pois era coisa de adulto. Ainda assim, me recordo de todas as vezes que entrei na casa dos meus avós, perfumada pelo cheiro da bebida. Esse cheiro anunciava, também, o fim da sesta de todos os dias. Religiosamente, um ou dois cafés eram bebidos lentamente ao som dos programas de TV da tarde.

Tenho, também, as lembranças de yiayia Stratoula, minha bisavó e kafetzou (senhora que pratica cafeomancia) talentosa. Durante as passagens dela por Brasília, juntavam-se as mulheres da família e, assim, ela lia a borra de café de todas. Ela enxergava tudo, mesmo que não pudéssemos ver.

Apesar de todo o peso sentimental que o Ellinikos Kafes (ελληνικός καφές – ellinikôs cafés) tem em minha vida, nunca fui sua grande admiradora pelo sabor. Em tempos recentes, num pequeno kafenío no vilarejo da minha avó Eleni, eu acabei pedindo um elliniko para acompanhar as pessoas que estavam ao meu redor. E… bem, a experiência não foi tão ruim assim!

Tradicionalmente, o café grego é preparado e fervido em um briki (pequena cafeteira com um formato próprio para o seu preparo) com café grego ou árabe – ou seja, um café fino e de torra leve – e, como ele não é coado, sua borra acaba ficando no fundo da xícara. Leia mais instruções a seguir!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 5 minutos

*Serve: medida individual

E você? Como prefere o seu café grego?

– Sketos (puro): Sem açúcar, apenas o café
– Glykos (doce): Do jeito que eu gosto, ou seja – duas colheres de chá de açúcar para cada colher de chá de café
– Metrios (médio): O mais popular – uma colher de chá de açúcar para cada colher de chá de café
– Variglykos (forte e muito doce): Três colheres de chá de açúcar para três colheres de chá de café

Ingredientes (para um café doce):
– 1 xícara de café (demitasse, pequena, 60 ml) de água filtrada
– 1 colher de chá cheia de pó de café grego ou árabe (ou, ainda, café de torra leve e moagem fina)
– 2 colheres de chá de açúcar
– 1 briki pequeno (cafeteira própria para este café)

Modo de preparo:
1. 
No briki, adicione a água, o açúcar e o pó de café. Misture bem com uma colher de chá.
2. Esquente a mistura em fogo baixo (o mais baixo possível no seu fogão).
3. Quando uma leve espuma começar a aparecer com pequenas borbulhas, retire o briki do fogo por mais ou menos 15 segundos.
4. Coloque-o novamente no fogo, e, assim que começar a ferver (borbulhas maiores), apague o fogo imediatamente.
5. Espere 5 minutos e sirva o café em uma xícara demitasse (xícara pequena para café).

Pontos importantes:
– Em momento algum pense em misturar o café na xícara. Não se mistura café grego.
– Cuidado para não ferver o café demais ou para ele não transbordar do briki (sujando todo seu fogão).
– A borra do café se assenta no fundo da xícara mesmo.
– Kaimaki (káimáki) é o nome que damos à espuma que fica no topo da xícara. Para muitos gregos, quanto mais espuma, melhor!

Dica amiga:
Sirva o café com um copo de água gelada de lado e o docinho ou biscoito de sua preferência! Vale lembrar que tomar café grego é um ritual demorado e relaxante, então não se apresse.