Ellinikos Kafés (café grego)

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Quantas vezes você se lembrou de alguém querido ao fazer uma refeição? Ou ao preparar um prato específico? Aposto que muitas. Eu também. O post de hoje foi especialmente difícil de escrever. Escrevi, apaguei, reescrevi… muitas e muitas vezes. Tudo porque café grego me faz pensar em meus avós, meus bisavós, meus trisavós e assim por diante. São tantas as histórias que sinto que vivi coisas que, na verdade, nunca vivi. O café grego é uma ponte para o passado e uma expressão de amor.

Dia 23 recebemos a ligação. De madrugada, pappous Georgios nos deixou. Justamente na semana que estava ensaiando fazer esta postagem, acabei não dando conta. Não sabia se escrevia ou se chorava (ou os dois). Para piorar, acabei assistindo O Tempero da Vida de novo, o que ativou o botão “poça de lágrimas”. Então, uma frase do filme me fez pensar e resumiu as longas conversas que tive com meu avô: “No céu há coisas que nós podemos ver, mas há também coisas que não podemos ver. Fale sempre sobre as coisas que outros não podem ver. As pessoas gostam de ouvir histórias sobre coisas que elas não podem ver”.

Pois bem. O café grego, para mim, sempre falou sobre coisas que nunca pude ver. É a minha conexão com os meus antepassados. Na infância, eu não bebia café, pois era coisa de adulto. Ainda assim, me recordo de todas as vezes que entrei na casa dos meus avós, perfumada pelo cheiro da bebida. Esse cheiro anunciava, também, o fim da sesta de todos os dias. Religiosamente, um ou dois cafés eram bebidos lentamente ao som dos programas de TV da tarde.

Tenho, também, as lembranças de yiayia Stratoula, minha bisavó e kafetzou (senhora que pratica cafeomancia) talentosa. Durante as passagens dela por Brasília, juntavam-se as mulheres da família e, assim, ela lia a borra de café de todas. Ela enxergava tudo, mesmo que não pudéssemos ver.

Apesar de todo o peso sentimental que o Ellinikos Kafes (ελληνικός καφές – ellinikôs cafés) tem em minha vida, nunca fui sua grande admiradora pelo sabor. Em tempos recentes, num pequeno kafenío no vilarejo da minha avó Eleni, eu acabei pedindo um elliniko para acompanhar as pessoas que estavam ao meu redor. E… bem, a experiência não foi tão ruim assim!

Tradicionalmente, o café grego é preparado e fervido em um briki (pequena cafeteira com um formato próprio para o seu preparo) com café grego ou árabe – ou seja, um café fino e de torra leve – e, como ele não é coado, sua borra acaba ficando no fundo da xícara. Leia mais instruções a seguir!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 5 minutos

*Serve: medida individual

E você? Como prefere o seu café grego?

– Sketos (puro): Sem açúcar, apenas o café
– Glykos (doce): Do jeito que eu gosto, ou seja – duas colheres de chá de açúcar para cada colher de chá de café
– Metrios (médio): O mais popular – uma colher de chá de açúcar para cada colher de chá de café
– Variglykos (forte e muito doce): Três colheres de chá de açúcar para três colheres de chá de café

Ingredientes (para um café doce):
– 1 xícara de café (demitasse, pequena, 60 ml) de água filtrada
– 1 colher de chá cheia de pó de café grego ou árabe (ou, ainda, café de torra leve e moagem fina)
– 2 colheres de chá de açúcar
– 1 briki pequeno (cafeteira própria para este café)

Modo de preparo:
1. 
No briki, adicione a água, o açúcar e o pó de café. Misture bem com uma colher de chá.
2. Esquente a mistura em fogo baixo (o mais baixo possível no seu fogão).
3. Quando uma leve espuma começar a aparecer com pequenas borbulhas, retire o briki do fogo por mais ou menos 15 segundos.
4. Coloque-o novamente no fogo, e, assim que começar a ferver (borbulhas maiores), apague o fogo imediatamente.
5. Espere 5 minutos e sirva o café em uma xícara demitasse (xícara pequena para café).

Pontos importantes:
– Em momento algum pense em misturar o café na xícara. Não se mistura café grego.
– Cuidado para não ferver o café demais ou para ele não transbordar do briki (sujando todo seu fogão).
– A borra do café se assenta no fundo da xícara mesmo.
– Kaimaki (káimáki) é o nome que damos à espuma que fica no topo da xícara. Para muitos gregos, quanto mais espuma, melhor!

Dica amiga:
Sirva o café com um copo de água gelada de lado e o docinho ou biscoito de sua preferência! Vale lembrar que tomar café grego é um ritual demorado e relaxante, então não se apresse. 

Precisamos falar sobre: Frappé grego

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Hoje eu quero falar com você sobre café. Mais especificamente sobre o Frappé. Já aviso que não tem nada a ver com Frappuccino e nem com Starbucks. Se você já ouviu falar sobre bebidas gregas, provavelmente já sabe sobre o-bom-e-velho Ouzo (bebida alcoólica feita com anis). Agora, se você acha que essa é a bebida mais popular da Grécia, está enganado, amigo! O Frappé reina por aquelas bandas, é o Zeus das bebidas gregas!

Frappé (Φραπές – Frappês) é o grande queridinho de todos T-O-D-O-S gregos (ok, talvez eu esteja exagerando um pouco). Ele é, basicamente, um café (Nescafé) batido (ou chacoalhado) que é servido gelado. Você imagina o sucesso que isso aqui faz no verão de 40 graus, né? Se você visitar uma praia grega e ficar em algum beach bar – bares na beira da praia – você, provavelmente, vai acabar pedindo um Frappé. Um não, talvez uns cinco. Nos cafés do centro de Atenas, adivinha o que é que todo mundo bebe? Isso mesmo. A hora de beber um Frappé é quase um ritual para o grego. Ele senta, bebe um pouquinho, depois bebe mais e fica lá, durante horas. Geralmente a bebida é servida com um copinho de água. Quando o café “acaba” e fica só a espuma, você adiciona mais um pouquinho da água e o ritual continua.

Reza a lenda que o Frappé foi inventado em Tessalônica, em 1957, por um representante da Nestlé. Portanto, não vou mentir que a receita fica muito melhor com o Nescafé Original. Você pode usar outro café instantâneo, assim como eu fiz, mas a espuma não vai ficar tão cremosa e exagerada (no caso da foto, eu já tinha bebido um pouquinho do meu!).

Antes de eu compartilhar a receita, queria ensinar umas expressões muito importantes na hora de pedir o seu Frappé. Se um dia você for para a Grécia, lembre-se de mim e deste post!

  • Se você prefere um Frappé natural e sem açúcar, você fala que quer ele “skêto”
  • Se você prefere um Frappé com um pouco de açúcar, você fala que quer ele “métrio”
  • Se você gosta de café bem doce, você fala que quer ele “glykô”
  • Se você gosta de leite no seu café, você fala que quer ele “mê ghála”

Lembre-se, o Frappé é servido gelado, sempre.

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 10 minutos

*Porção individual

Ingredientes:
– 
1 colher de chá, cheia, de café instantâneo
– 3 colheres de chá de açúcar (o meu é a versão doce)
– Meia xícara de chá de leite
– 2/3 de um copo de água filtrada
– 1 shaker de bebida (se você não possuir um, pode usar uma garrafinha de água dessas térmicas ou algo parecido)
– Gelo a gosto

Modo de preparo:
1.
Adicione o café, o açúcar e um dedo da água filtrada no shaker (ou garrafinha). Certifique-se de que o compartimento está bem fechado.
2. Agite o shaker muito bem durante mais ou menos 30 segundos ou até formar uma espuma a seu gosto.
3. Despeje o conteúdo em um copo e preencha o restante do espaço com a água, o leite e o gelo (a gosto).
4. Agora é só curtir!

Dica amiga:
Você pode usar um mixer de café (mini mixer) para bater o Frappé em vez de usar um shaker – a espuma ficará muito mais parecida com a do original – e, se for o caso, você é RYCO e eu te invejo. Além disso, é muito importante usar um café instantâneo de boa qualidade. Se for Nescafé, melhor ainda. Na Grécia, o leite usado costuma ser o evaporado (não é o condensado), que dá um sabor diferente – como aqui no Brasil ele não é muito comum, eu recomendo o leite integral fresco.