Eliopsomo (pão de azeitonas com alecrim e orégano)

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Não existe memória minha que não ligue a Grécia à tradição do pão, o qual está presente na nossa história desde a antiguidade – desde as referências de Hipócrates até o culto de Deméter. Desde pequena estou acostumada com dizeres como “gregos comem tudo com pão” e “é tão difícil tirar o pão da dieta…”. E olha que nem é mentira, a gente come esse tanto de pão mesmo! É pão depois da missa, pão com um pouco de azeite, com pastinhas deliciosas, pra juntar o caldinho da salada no prato e não deixar que nada seja desperdiçado.

Eliopsomo (Ελιόψωμο – Êliôpsomo) nada mais é do que um pão com azeitonas. Então, imagina só: Se pão é coisa de grego, pão com azeitonas é 200% coisa de grego. Minhas melhores lembranças desse pão vêm de quando comprávamos unidades fresquinhas e quentinhas do mesmo e do pão de semolina (outra receita bastante tradicional e uma das minhas favoritas) no fournos (padaria) do mercado do bairro. A receita a seguir é a versão mais próxima que consegui fazer dessa delícia, apesar de a casca ter ficado um pouco mais crocante que a do original. De qualquer forma, vale a tentativa, né?

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 3 horas

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 700 g (ou o quanto bastar) de farinha de trigo peneirada + extra para sovar
– 2 colheres de chá de sal
– 2 colheres de chá de açúcar
– 2 colheres de chá de fermento biológico seco
– 5 colheres de sopa de azeite + extra para untar
– 2 xícaras de chá de água morna + extra para dar o ponto
– 2 xícaras de chá de azeitonas verdes ou pretas sem caroço picadas
– 2 colheres de chá de orégano
– 1 colher de chá de alecrim

Modo de preparo:

Caso você tiver uma batedeira planetária, utilize o bowl desde o começo da receita. Caso não, utilize uma tigela para este primeiro passo.

1. Junte a água morna, o azeite, o açúcar e o fermento biológico seco em uma tigela/bowl. Aguarde 10 minutos para ativar o fermento – a mistura deve começar a borbulhar levemente.
2. Feito isso, adicione a farinha e o sal. Você pode sovar a massa tanto no gancho da batedeira planetária, quanto em uma bancada com farinha.
3. Sove a massa durante 7-8 minutos ou até que massa esteja macia e bem incorporada. Enrole a massa em formato de bola. Adicione mais água ou farinha se precisar dar o ponto.
4. Unte uma outra tigela com um pouco de azeite e coloque a massa no centro da mesma. Cubra com um pano de prato e deixe descansar em local morno por aproximadamente 1 hora, ou até que a massa tenha dobrado de tamanho.
5. Quando a massa tiver descansado, polvilhe um pouco de farinha em uma bancada e junta a massa, as azeitonas, o orégano e o alecrim. Sove novamente por alguns minutos.
6. Unte uma assadeira com azeite e pré-aqueça o forno a 250°C.
7. Você pode tanto cortar a massa e fazer pãezinhos, como moldar o pão em formato redondo ou oval, como eu fiz.
8. Posicione a massa no centro da assadeira e asse durante aproximadamente 40 minutos, ou até que o pão (ou pãezinhos) esteja douradinho.
9. Deixe esfriar durante 10 minutos e sirva! Lembre-se: a crosta deve estar crocante!

Dica amiga:
Sirva esse saboroso pão de forma simples, apenas com azeite. Você também pode servi-lo com hummus (pasta de grão-de-bico) ou tzatziki!

Bolo de especiarias com nozes e pistache

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Se tem uma coisa que eu tenho feito ultimamente, essa coisa é bolo. Semana vai, semana vem, escolho um dia para preparar um bolo diferente. Não só por amar café com bolo, mas por adorar presentear pessoas queridas com uma, duas, várias fatias… isso é, quando a receita dá certo! Além disso, na minha opinião, uma casa com cheiro de bolo é uma casa mais feliz.

Quando voltei de Istambul ano passado, trouxe comigo muitas memórias. Pistache em abundância, doces árabes, senhores me oferecendo amostras de seus produtos e até chá do amor, montanhas de especiarias em cada bazaar descoberto… fiquei encantada com aquele mundo de aromas, sabores e sons.

Assim, para não perder o costume, resolvi inventar na cozinha. Joguei tudo que encontrei na despensa e que combinaria minimamente em uma receita de bolo – pistache, nozes, especiarias, suco de laranja, licor… e olha, deu certo! Se você procura um bolo absurdamente aromático, aqui é o seu lugar. Sinta-se livre para adicionar outros ingredientes como passas, ameixas, amêndoas, damasco e o que mais você desejar!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 8 pessoas

Ingredientes:
– 1 xícara e meia de chá de farinha de trigo
– 1 xícara e meia de chá de açúcar orgânico (de preferência mascavo)
– 1 xícara de óleo vegetal
– 3 ovos
– 1 colher de sopa de fermento em pó
– 1 xícara de chá de suco de laranja
– 2 colheres de chá de canela em pó
– 1 colher de chá de noz-moscada
– 3 colheres de sopa de licor de sua preferência
– 1 punhado de nozes picadas
– 1 punhado de pistaches descascados e picados
– Manteiga e cacau em pó para untar a forma

Modo de preparo:
1. 
Comece preaquecendo o forno a 180 graus.
2. Enquanto isso, junte o óleo, os ovos e o suco de laranja num liquidificador. Bata tudo muito bem durante 2 minutos.
3. Em uma tigela, junte a farinha de trigo, o açúcar, a canela e a noz-moscada. Misture.
4. Despeje a mistura líquida na mistura seca, misturando lentamente até obter uma massa homogênea.
5. Adicione o licor, as nozes e os pistaches. Misture.
6. Por fim, adicione o fermento em pó e misture bem.
7. Unte uma forma para bolo como um pouco de manteiga e cacau em pó, tomando cuidado para retirar o excesso.
8. Despeje a massa na forma e asse em forno médio durante 40-45 minutos, ou até que o bolo esteja cozido.

Berinjelas e abobrinhas no azeite

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Senta aqui. Vamos bater um papo? Assim, como amigos. O que é liberdade pra você? Você sente que tem autonomia na sua vida? Liberdade, pra mim, é dizer “não”; “não gosto”, “não quero”, “não posso”. Pois é, ando pensando muito sobre isso nos últimos tempos e como liberdade/autonomia podem fazer parte de diversos aspectos da nossa vida.

Sabe aquele velho meme do não conseguir dormir porque estamos pensando/procurando inutilidades no Google/relembrando as babaquices que falamos para aquele crush há 5 anos? Então! Eu fiquei assim depois de assistir a essas duas entrevistas da M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A da Paola Carosella (assiste aí, vai).

Liberdade é escutar suas vontades, cortar aquilo que te faz mal, viver uma vida sem falar “talvez” pra tudo; aquelas relações meia-boca, gente que não se importa contigo, fazer aula de natação quando, na verdade, você queria dançar flamenco, comer pão fit  de manhã quando a vontade mesmo é de um cuscuz com ovo mexido.

É, dizer “sim” e “não” também está presente na nossa relação com a alimentação. “Mas, por que você tá falando isso, miga? Me explica”. Explico! Você já passou dias seguidos só almoçando em restaurantes? Ou comendo “porcaria” por dias a fio? O que você sentiu depois disso? Bom, eu já senti uma vontade louca de comida caseira, de feijão e arroz, de saladas bem coloridas, de sentir o cheiro do alho nos meus dedos. Meu corpo queria aquilo. Eram as minhas vontades. Agora me diz: se sua vontade é comer uma bela macarronada naquele almoço, por qual motivo você vai escolher peito de frango com duas lascas de pepino? Cê tá me entendendo? Não é exagerar, é ouvir o que o seu corpo está pedindo.

Desde cedo nos ensinam a esconder nossos sentimentos, nossas vontades. Não pode chorar, não pode se incomodar, não pode demonstrar demais, não pode usar listras na horizontal porque engorda, não pode comer isso, não pode comer aquilo. Quando crescemos, não sabemos lidar com tudo isso; nos frustramos e acabamos vivendo uma vida no automático.

Por favor, comece se autoconhecendo – até mesmo no âmbito da alimentação. O que você gosta de comer? O que estaria disposto a provar? E a cozinhar? Tire tempo pra aprender a cozinhar o que gosta, procure receitas com carinho. Cozinhar não é só um ato de amor para com os outros, mas é, também, um autocuidado.

A receita de hoje é super tranquila! Eu estava com vontade de comer abobrinhas fritas – tipicamente servidas empanadas como mezedes na Grécia – mas, acabei juntando berinjelas, alho, temperinhos e… aqui está! Um ótimo acompanhamento para qualquer almoço de verão.

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 40 minutos

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 3 abobrinhas médias
– 3 berinjelas médias
– Azeite de oliva, para fritar + temperar
– 6 dentes de alho inteiros, descascados
– Sal e pimenta, a gosto
– Páprica doce, a gosto

Modo de preparo:
1. 
Corte as abobrinhas e as berinjelas em rodelas médias. Reserve.
2. Tempere com sal, pimenta e azeite. Misture bem para que todas as rodelas fiquem bem temperadas e cobertas em azeite.
3. Em uma frigideira média, frite as abobrinhas e berinjelas com um pouco de azeite. Frite em fogo médio até que estejam bem douradas.
4. Adicione os dentes de alho descascados, frite por mais alguns minutos até que dourem.
5. Tempere com mais pimenta a gosto e páprica doce. Agora é só servir!

Kotopita (torta folhada de frango com iogurte)

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Eu sempre tive uma dificuldade enorme em lidar com mudanças. Logo a minha vida, que tá sempre mudando! Amigas diriam que é porque sou taurina, pé no chão, teimosa, paciente, não gosta de muita novidade… pode até ser (não sei, tenho lua em aquário). No meio desse caos todo que é a minha vida (de vez em quando), percebi que já se passaram quase dois anos desde um divisor de águas que me fez perceber que mudar é bom. Que arriscar é preciso. Que provar coisas novas é necessário.

Há quase dois anos terminei um relacionamento tóxico. Eu implorava para sair daquilo, mas não sabia como. Nunca vivia novidades, apenas ciclos. Ciclos que doíam, me rasgavam o peito, me adoeciam, inchavam meus olhos. Logo com ele, que sempre falou que era importante arriscar! Mas era sempre a mesma dor, que ia se espalhando por todo o corpo como uma somatização qualquer. Num dia chuvoso essa semana, percebi que estava tudo bem. Eu coloquei um ponto final para me encontrar de novo. Eu mudei, e mudar é bom. Eu arrisquei tantas vezes desde que me despedi dele. Quantas vezes me achei boba por me mostrar vulnerável. Hoje vejo que ser vulnerável é ser forte. Transformei toda raiva e dor em vontade de conhecer os meus desejos mais profundos e perdoei. Afinal, foi no meio daquele furacão todo que decidi escrever por aqui, por mim.

Mas… então amiga, como isso tá relacionado à comida grega? Ah amigos, o prato de hoje é novidade até para mim. Arrisquei mesmo e ficou uma delícia. Quem disse que toda torta folhada grega tem que ser do mesmo jeito? A vida é curta demais para isso! Novidades e experiências novas servem para nos mostrar o que gostamos e o que não gostamos. E sei lá… vai que vocês gostam dessa torta diferentona também! Bora arriscar? Confiram a receita:

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 1h15

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 1 pacote de massa folhada descongelada
– 500 g de peito de frango em cubos pequenos
– 1 cebola média picada
– 4 dentes de alho ralados
– 3 colheres de sopa de vinho branco
– 1 tomate grande picado
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca picada
– 1 xícara de chá de farinha de arroz flocada cozida (ou arroz cozido)
– 1 colher de sopa de orégano
– Noz-moscada a gosto
– Sal e pimenta a gosto
– 1 colher de chá de cominho
– 1 pote de iogurte natural ou coalhada seca
– 1/2 xícara de chá de queijo ralado (de sua preferência)
– 2 colheres de sopa de azeite de oliva
– Manteiga suficiente para untar a travessa e pincelar a massa
– Farinha de trigo, para abrir a massa
– Gergelim a gosto (para polvilhar)

Modo de preparo:
1. 
Comece preparando o recheio. Em uma panela, refogue a cebola e os dentes de alho no azeite até que fiquem dourados.
2. Em seguida, adicione os cubos de frango e o vinho branco. Espere até refogar.
3. Tempere com orégano, noz-moscada, sal, pimenta e cominho. Misture bem.
4. Adicione o tomate picado, a salsinha e a farinha de arroz cozida (ou arroz cozido). Misture bem e deixe cozinhar em fogo baixo por mais 5-7 minutos.
5. Em seguida, desligue o fogo e adicione o iogurte natural e o queijo ralado. Misture e reserve.
6. Unte uma travessa de sua preferência e preaqueça o forno a 180º C.
7. Retire a massa do pacote e corte-a na metade. Pegue um dos pedaços e abra com um rolo de massa, adicionando um pouco de farinha para auxiliar no processo.
8. Acomode essa metade no fundo da travessa. É importante que sobre um pouco de massa nos cantos da travessa para a hora de fechar a torta.
9. Adicione o recheio e espalhe bem.
10. Repita o passo número 7 com o outro pedaço da massa folhada.
11. Cubra o recheio com a outra metade da massa, dobrando as laterais da torta.
12. Pincele a torta com manteiga e salpique gergelim a gosto.
13. Leve ao forno preaquecido em temperatura média durante 45 minutos ou até que a torta esteja dourada e a massa cozida.

Kourambiedes do Tio Kosta (biscoitos amenteigados gregos)

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A receita de hoje, eu diria, é a mais esperada do blog. Sim, da história do blog! Em quase dois anos escrevendo por aqui, perdi a conta de quantas vezes me pediram o modo de preparo detalhado dessas belezuras açucaradas, o que me fez pensar que elas são realmente muito amadas. E sabe o motivo? É que estes biscoitinhos, moldados em diversos formatos, carregam consigo um bocado de história. Acho que todo grego desse mundo tem alguma memória envolvendo os Kourambiedes. De repente era a avó que fazia, ou os primos que levavam um prato cheio nas visitas, ou mesmo é a lembrança de moldar os biscoitos semanas antes do Natal.

Para mim sempre foi uma mistura disso tudo. Eu adorava ver minha avó fazendo os biscoitos e ela sempre me dava a oportunidade de moldar alguns (e comer uns pedacinhos da massa crua). Depois tinha a mágica de sentir o cheiro delicioso dos biscoitos pela casa e polvilhá-los com açúcar de confeiteiro – pareciam floquinhos de neve! Como um tradicional biscoito de Natal, em minhas viagens para a Grécia, eu ficava encantada com a quantidade absurda, os quilos e quilos que ficavam à mostra nas dezenas de confeitarias da rua comercial perto de casa.

Claro, como é de se esperar, cada pessoa tem a sua preferência. A minha amiga Karla adora os biscoitos da minha avó – e ela tem as suas próprias lembranças relacionadas a eles. Já meu pai, gosta dos Kourambiedes sem o açúcar de confeiteiro. Minha avó não coloca suco de laranja na versão dela. Já a versão de hoje – a qual eu aprendi com o meu tio Kosta, lá de São Paulo – leva raspas de laranja e Ouzo (bebida destilada grega).

Preparados, vendidos e oferecidos tradicionalmente nas festas de fim de ano, os Kourambiedes (κουραμπιέδες – kúrambiêdhes) são biscoitos amanteigados com nozes ou amêndoas. Como muitos pratos típicos gregos, cada família tem a sua própria receita e é possível encontrá-los em diversos tamanhos, formatos e tipos – da última vez que fui à Grécia, encontrei Kourambiedes recheados com mousse de chocolate! E aí, se animou? Então mão na massa!

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 3 horas

*Rende, em média: 60 unidades médias

Ingredientes:
– 400 g de manteiga sem sal em temperatura ambiente
– 700 g de farinha de trigo + extra
– 2 ovos grandes, levemente batidos
– 1 xícara de açúcar refinado
– 2 colheres de sobremesa de essência de baunilha
– 2 colheres de sopa de Ouzo ou conhaque
– 1 xícara de chá de nozes trituradas
– Sumo de uma laranja
– Raspas de uma laranja
– 1 colher de sopa de fermento químico
– Açúcar de confeiteiro, para finalizar

Modo de preparo:
1. 
Bata a manteiga com uma batedeira até amolecer. Em seguida, adicione os ovos e continue batendo.
2. Quando a manteiga estiver bem macia, adicione o açúcar, a baunilha e o Ouzo ou conhaque. Continue batendo até a mistura ficar homogênea.
3. Depois, adicione o sumo e as raspas de laranja e as nozes trituradas. Bata continuamente.
4. Em uma tigela, peneire a farinha e adicione o fermento químico. Misture tudo e adicione aos poucos à tigela com a manteiga. Se você utilizar uma batedeira planetária, certifique-se de que está usando a pá para massas médias (biscoitos, etc). Caso contrário, junte a farinha aos poucos com uma colher e misture com a mão mesmo até dar o ponto certo.
5. Ponto da massa: ela deve parecer massinha de modelar e não pode ficar grudenta. Se necessário, ajuste o ponto adicionando mais farinha.
6. Preaqueça o forno a 180°C. Unte assadeiras grandes ou cubra-as com papel manteiga. Molde os biscoitos da forma que desejar – com a mão ou com cortadores de biscoito – e ajuste-os nas assadeiras.
7. Asse os biscoitos em forno médio durante 20 minutos ou até que fiquem douradinhos. Quando estiverem prontos, deixe que esfriem e polvilhe açúcar de confeiteiro.

Dica amiga:
Na hora de fazer os Kourambiedes, experimente adicionar amêndoas trituradas na massa! 

Makaronia me saltsa tomatas (macarrão com molho de tomates frescos)

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Hoje, enquanto cozinhava um prato para o almoço – que aparecerá por aqui em breve – pensei: simplicidade é tudo. Na vida, nas relações e na comida. Preparei um ensopado de batatas que leva molho de tomate caseiro e batatas (além de temperos, é claro) e, naquela simplicidade toda, percebi que havia tanto sabor, tanta profundidade, tanto amor. Há coisas na vida que simplesmente se encaixam, sem precisar de muito esforço.

É o caso da receita de hoje – muito simples, coisa bem básica, fácil de fazer, mas que tem gosto de conforto. Makaronia me saltsa tomatas (Μακαρόνια με σάλτσα ντομάτας – makarônia me sáltsa tomátas) é o macarrão ao sugo da Grécia (com seus tomates doces como figos no verão). Por lá, nós costumamos colocar bastante Mizithra (queijo branco grego) ou Kefalotyri na massa e isso dá todo um sabor especial ao prato. Como não temos estes queijos por aqui, proponho que você experimente o prato com queijo branco ralado ou ricota desmanchada. Fica bom d-e-m-a-i-s!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 40 minutos

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 1 pacote de espaguete
– 5 dentes de alho, picados
– 6 tomates grandes maduros, em cubos
– 1 colher de sopa de orégano
– 1 copo americano de água morna
– 1 colher de sopa de vinho tinto seco
– 1 colher de sopa de azeite de oliva
– Salsinha fresca picada, a gosto
– 1 colher de chá de pimenta calabresa
– Folhas de manjericão, a gosto
– Sal a gosto
– 1 pitada de açúcar
– 1 colher de sopa de manteiga
– Queijo branco ralado ou ricota desmanchada, para servir

Modo de preparo:
1. 
Comece pelo molho. Em uma panela refogue o alho no azeite de oliva até dourar.
2. Adicione os tomates, a água morna, o vinho, o orégano, a pimenta, o sal e o açúcar. Espere até ferver e abaixe o fogo.
3. Enquanto isso cozinhe a massa de acordo com o pacote. Atenção para que ela fique al dente.
4. Quando o molho estiver encorpado, adicione a salsinha e o manjericão. Misture bem e adicione massa cozida à panela do molho.
5. Adicione a manteiga, misture bem e sirva quente com bastante queijo branco ralado!

Dica amiga:
E a dica de ouro para os pratos gregos é… Quanto mais maduros os tomates, melhor! Lembre-se disso na hora de preparar seu molho de tomate caseiro.

Briam (vegetais sortidos assados)

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A receita de hoje é mais uma da série “eu detestava comer isso na infância” – detestava, sim, no passado. Hoje considero este um dos pratos mais fáceis e versáteis da culinária grega. Como diz a diva Rita Lobo: “é pá pum!”. Abra qualquer livro de culinária grega e Briam aparecerá logo no início da categoria Ladherá.

Apesar de algumas pessoas (inclusive em muitos livros de receitas) chamarem este prato, carinhosamente, de Tourlou Tourlou (tradução livre: tudo junto e misturado), eu sempre o conheci como Briam ou Briami (Μπριαμ – Briám). Digamos que esta seja a nossa versão do clássico ratatouille – muitos vegetais, muito azeite, muito tomate… tudo junto e misturado! Garanto que é super tranquilo de preparar. Você pode servi-lo como prato principal ou como acompanhamento e, ainda, adicionar outros ingredientes como cogumelos, quiabo, vagem, etc. Seja criativo e me acompanhe!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1h30

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 6 batatas médias, cortadas em pedaços grossos
– 2 abobrinhas, cortadas em rodelas
– 1 berinjela grande, cortada em rodelas (opcional)
– 1 cebola roxa, cortada em pedaços grandes
– 2 dentes de alho, ralados
– 1 pimentão vermelho médio, cortado em tiras
– 1 alho-poró médio, cortado em rodelas (opcional)
– 3 tomates grandes, ralados
– 1 colher de chá de orégano
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca picada
– Sal e pimenta, a gosto
– 1/2 xícara de chá de azeite de oliva extravirgem + extra
– 1/2 copo americano de água morna

Modo de preparo:
1. 
Em tigela grande, misture as batatas, as abobrinhas, a berinjela, a cebola, o pimentão, o alho-poró e os dentes de alho ralados.
2. Tempere tudo muito bem com o orégano, a salsinha fresca, o sal e a pimenta. Misture.
3. Despeje os vegetais em uma travessa grande, adicione os tomates ralados e o azeite de oliva. Misture bem e adicione a água morna.
4. Leve ao forno preaquecido e asse em forno médio durante 50 minutos ou até que tudo esteja bem cozido e macio.
5. Retire do forno e regue com um pouco mais de azeite. Agora é só servir!

Dica amiga:
Vale a pena esperar um pouquinho para saborear 
Briam em temperatura ambiente ou, se preferir, no dia seguinte – isto é, claro, com bastante pão para absorver o caldinho!

Ellinikos Kafés (café grego)

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Quantas vezes você se lembrou de alguém querido ao fazer uma refeição? Ou ao preparar um prato específico? Aposto que muitas. Eu também. O post de hoje foi especialmente difícil de escrever. Escrevi, apaguei, reescrevi… muitas e muitas vezes. Tudo porque café grego me faz pensar em meus avós, meus bisavós, meus trisavós e assim por diante. São tantas as histórias que sinto que vivi coisas que, na verdade, nunca vivi. O café grego é uma ponte para o passado e uma expressão de amor.

Dia 23 recebemos a ligação. De madrugada, pappous Georgios nos deixou. Justamente na semana que estava ensaiando fazer esta postagem, acabei não dando conta. Não sabia se escrevia ou se chorava (ou os dois). Para piorar, acabei assistindo O Tempero da Vida de novo, o que ativou o botão “poça de lágrimas”. Então, uma frase do filme me fez pensar e resumiu as longas conversas que tive com meu avô: “No céu há coisas que nós podemos ver, mas há também coisas que não podemos ver. Fale sempre sobre as coisas que outros não podem ver. As pessoas gostam de ouvir histórias sobre coisas que elas não podem ver”.

Pois bem. O café grego, para mim, sempre falou sobre coisas que nunca pude ver. É a minha conexão com os meus antepassados. Na infância, eu não bebia café, pois era coisa de adulto. Ainda assim, me recordo de todas as vezes que entrei na casa dos meus avós, perfumada pelo cheiro da bebida. Esse cheiro anunciava, também, o fim da sesta de todos os dias. Religiosamente, um ou dois cafés eram bebidos lentamente ao som dos programas de TV da tarde.

Tenho, também, as lembranças de yiayia Stratoula, minha bisavó e kafetzou (senhora que pratica cafeomancia) talentosa. Durante as passagens dela por Brasília, juntavam-se as mulheres da família e, assim, ela lia a borra de café de todas. Ela enxergava tudo, mesmo que não pudéssemos ver.

Apesar de todo o peso sentimental que o Ellinikos Kafes (ελληνικός καφές – ellinikôs cafés) tem em minha vida, nunca fui sua grande admiradora pelo sabor. Em tempos recentes, num pequeno kafenío no vilarejo da minha avó Eleni, eu acabei pedindo um elliniko para acompanhar as pessoas que estavam ao meu redor. E… bem, a experiência não foi tão ruim assim!

Tradicionalmente, o café grego é preparado e fervido em um briki (pequena cafeteira com um formato próprio para o seu preparo) com café grego ou árabe – ou seja, um café fino e de torra leve – e, como ele não é coado, sua borra acaba ficando no fundo da xícara. Leia mais instruções a seguir!

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 5 minutos

*Serve: medida individual

E você? Como prefere o seu café grego?

– Sketos (puro): Sem açúcar, apenas o café
– Glykos (doce): Do jeito que eu gosto, ou seja – duas colheres de chá de açúcar para cada colher de chá de café
– Metrios (médio): O mais popular – uma colher de chá de açúcar para cada colher de chá de café
– Variglykos (forte e muito doce): Três colheres de chá de açúcar para três colheres de chá de café

Ingredientes (para um café doce):
– 1 xícara de café (demitasse, pequena, 60 ml) de água filtrada
– 1 colher de chá cheia de pó de café grego ou árabe (ou, ainda, café de torra leve e moagem fina)
– 2 colheres de chá de açúcar
– 1 briki pequeno (cafeteira própria para este café)

Modo de preparo:
1. 
No briki, adicione a água, o açúcar e o pó de café. Misture bem com uma colher de chá.
2. Esquente a mistura em fogo baixo (o mais baixo possível no seu fogão).
3. Quando uma leve espuma começar a aparecer com pequenas borbulhas, retire o briki do fogo por mais ou menos 15 segundos.
4. Coloque-o novamente no fogo, e, assim que começar a ferver (borbulhas maiores), apague o fogo imediatamente.
5. Espere 5 minutos e sirva o café em uma xícara demitasse (xícara pequena para café).

Pontos importantes:
– Em momento algum pense em misturar o café na xícara. Não se mistura café grego.
– Cuidado para não ferver o café demais ou para ele não transbordar do briki (sujando todo seu fogão).
– A borra do café se assenta no fundo da xícara mesmo.
– Kaimaki (káimáki) é o nome que damos à espuma que fica no topo da xícara. Para muitos gregos, quanto mais espuma, melhor!

Dica amiga:
Sirva o café com um copo de água gelada de lado e o docinho ou biscoito de sua preferência! Vale lembrar que tomar café grego é um ritual demorado e relaxante, então não se apresse. 

Spanakorizo (arroz com espinafre)

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Uma das coisas que as pessoas têm comentado comigo (com surpresa) é o fato de a culinária grega oferecer uma variedade de pratos à base de vegetais. Parte disso com certeza vem da tradição do jejum da Igreja Ortodoxa Grega. Algumas pessoas chegam a passar quase metade do ano sem comer alimentos de origem animal! Mas, isso não quer dizer “alimentação sem graça” – sempre vale improvisar, usar ervas frescas e especiarias e priorizar os alimentos da estação.

Hoje compartilho uma receita muito simples e saborosa utilizando o queridinho da Grécia: O espinafre. O Spanakorizo (Σπανακόριζο – Spanakôrizo) é semelhante ao Lahanorizo – um arroz cremoso e aromático servido como prato principal… só que com espinafre. O prato também leva um pouco de vinho, o que faz com que acabe parecendo muito com um risoto. Cabe a você escolher o tipo de arroz e ficar atento ao tempo de cozimento! Na Grécia, utilizamos arroz carolino, mas, como não é encontrado com facilidade por aqui, recomendo qualquer arroz para risoto.

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 8 pessoas

Ingredientes:
– 1 cebola média, picada
– 3 dentes de alho, picados
– 2 maços de espinafre, lavados, sem talos
– 2 xícaras de arroz branco (ou arroz para risoto)
– 3 colheres de sopa de azeite de oliva
– 1 xícara de chá de cebolinha picada
– 1/2 xícara de chá de vinho branco
– 1 xícara de chá de endro (dill) picado (opcional)
– 6 xícaras de chá de água morna
– 2 colheres de sopa de manteiga
– Sal e pimenta, a gosto
– Noz-moscada ralada, a gosto
– Sumo de limão, para servir (opcional)
– Queijo Minas, parmesão ralado ou ricota desmanchada, para servir

Modo de preparo:
1. 
Em uma panela grande, refogue a cebola e o alho no azeite até que fiquem transparentes.
2. Junte o arroz e o vinho branco e misture. Cozinhe por mais ou menos dois minutos.
3. Em seguida junte o espinafre, a cebolinha, o endro, o sal, a pimenta e a noz-moscada. Misture bem e junte a água morna. Deixe pegar fervura, e, em seguida, cozinhe em fogo baixo até que o arroz fique macio (e cremoso – no caso do arroz para risoto). Se necessário, adicione mais água para o cozimento. O espinafre deve ficar macio também.
4. Quando o arroz estiver cozido (é importante que ele não esteja completamente seco, um pouco de líquido deve permanecer) adicione a manteiga e misture.
5. Sirva com sumo de limão e queijo ralado.

Dica amiga:
Acompanhe o Spanakorizo com ovos cozidos ou fritos, queijo Minas ou ricota desmanchada e um bom pão!

Melitzanes Papoutsakia (berinjelas recheadas)

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Na minha humilde opinião, o prato de hoje é o mais fofinho da culinária grega. Tanto visualmente, quanto pelo nome. Lembro até que, na minha infância, o nome gerava bastante curiosidade em mim. O modo de preparo não é difícil, mas, como uma grande parte dos pratos gregos, dá um pouquinho de trabalho. Por isso, vou direto ao ponto.

Melitzanes Papoutsakia (Μελιτζάνες Παπουτσάκια – Mélitzánes Paputsákia) são “barquinhos” de berinjela, recheados com carne moída e finalizados com molho bechamel. Eu adoro esse nome porque significa, literalmente, “sapatinhos”. É a coisa mais fofa! Eu costumo ver esse prato por aí como Moussaká e, apesar de os dois serem bem parecidos, são diferentes nos detalhes. De qualquer forma, posso concluir que Papoutsakia são como porções individuais de Moussaká, em forma de sapatinhos (ou barquinhos).

Se você curte berinjela, vai amar esta receita. Então, bora cozinhar?

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 2 horas
*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:

Para a berinjela e o recheio:
– 800 g de carne moída
– 4 berinjelas grandes, lavadas
– 1 cebola grande, picada
– 4 dentes de alho, picados
– 3 tomates grandes, ralados
– Salsinha fresca a gosto, picada
– 1 colher de chá de canela em pó
– 1 colher de chá de cominho
– 1 colher de chá de açúcar
– 1 colher de sopa de orégano
– 3 colheres de sopa de vinho tinto seco
– Sal e pimenta, a gosto
– Azeite de oliva extravirgem

Para o bechamel:
– 3 colheres de sopa de manteiga
– 3 colheres de sopa de farinha de trigo
– 1 litro de leite
– Sal e pimenta, a gosto
– 1 pitada de noz-moscada
– 1/2 xícara de queijo parmesão ralado (se preferir, utilize o queijo Minas padrão)

Modo de preparo:
1. 
Comece cortando as berinjelas: primeiro, corte os talos e, depois, corte no meio, na vertical, formando “barquinhos”. Com um garfo, espete a polpa em alguns pontos (ela soltará água no forno). Disponha os “barquinhos” em um refratário, tempere-os com um pouco de sal e azeite e leve ao forno médio durante aproximadamente 30 minutos, ou até que a polpa esteja macia.
2. Enquanto isso, prepare o recheio de carne. Refogue a cebola com um pouco de azeite, até que fique translúcida. Adicione o alho e deixe tudo dourar.
3. Em seguida, adicione a carne moída. Misture bem até que cozinhe por completo.
4. Adicione o vinho, a canela, o cominho, o orégano, o sal e a pimenta. Misture tudo e deixe cozinhar em fogo baixo.
5. Depois, adicione os tomates ralados e o açúcar. Deixe o recheio cozinhar até ficar com pouquíssimo caldo.
6. Quando as berinjelas estiverem assadas, retire-as do forno e, com uma colher, raspe com cuidado a polpa de cada uma – formando o espaço para adicionar o recheio.
7. Pique bem a polpa das berinjelas e adicione ao recheio de carne moída. Adicione também a salsinha fresca e misture. Desligue o fogo.
8. Agora, vamos para o bechamel. Em uma panela, derreta a manteiga.
9. Quando estiver completamente derretida, adicione a farinha e misture vigorosamente por mais ou menos dois minutos.
10. Em seguida, em fogo baixo, adicione o leite lentamente e continue misturando, sem parar. Mexa o molho bem durante todo o processo para não grudar ou queimar, até engrossar. Para esta receita, é necessário que o bechamel fique com consistência de mingau.
11. Desligue o fogo, tempere com sal, pimenta e noz-moscada e adicione o queijo ralado. Misture bem e reserve.
12. Agora, a montagem! Em um refratário, pincele um pouco de azeite, para untar. Disponha os barquinhos de berinjela lado a lado.
13. Adicione algumas colheradas do molho de carne em cada barquinho. Por cima, coloque uma boa quantidade de bechamel.
14. Asse em forno médio durante aproximadamente 20 minutos ou até que o molho bechamel esteja bem gratinado. As berinjelas + o molho de carne soltarão um pouco de água, mas não se preocupe – fora do forno ela secará!
15. Ufa! Agora é só servir!

Dica amiga:
Se você preferir pode substituir o bechamel no topo por um cremoso purê de batatas, para finalizar o prato!