Imam Bayildi…o imã desmaiou!

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Certo dia, folheando o livro Culinária Mediterrânea: Receitas Saudáveis e Fáceis de Fazer (um livro maravilhoso, aliás), me deparei com uma receita do prato de hoje: o “Imam Bayildi”. Sempre tive curiosidade por conta do nome. Sempre ouvi histórias de como minha bisavó preparava um Imam Bayildi de lamber os beiços. Então, resolvi pesquisar mais sobre o assunto, a despeito da minha falta de habilidade para trabalhar com berinjelas.

Imam Bayildi (Iμάμ μπαϊλντί – imám baildí) é um prato da cozinha otomana que foi incorporado à culinária grega pelos gregos da Anatólia (ou Ásia Menor). Foram tantos anos de convivência entre estes povos que é normal encontrar pratos (músicas, costumes, etc…) semelhantes nos dois países. Mas, traduzindo… “imam bayildi” significa “o imã desmaiou”. E, como todo nome interessante, é claro que existe uma história por trás disso tudo. Neste caso, alguns dizem que o imã desmaiou quando provou este prato maravilhoso; outros, que foi por conta da quantidade exagerada de azeite de oliva que o prato leva. Eu prefiro a primeira opção – ele realmente é uma delícia e esta versão não leva taaaaanto azeite assim.

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 1h30
*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 4 berinjelas, lavadas e fatiadas na horizontal
– 1 cebola grande, picada (usei a roxa)
– 4 dentes de alho, picados
– 2 tomates grandes maduros, cortados em cubos
– 1 xícara de chá de molho de tomate
– 1 xícara de chá de água
– 1 colher de chá de canela em pó
– 1 colher de chá de cominho
– 1 colher de chá de açúcar
– 2 colheres de sopa de orégano
– 1/2 xícara de chá de salsinha fresca picada
– 2 fatias de pão de forma, desmanchadas
– Sal e pimenta a gosto
– 1/3 de xícara de chá de azeite extravirgem + extra para refogar cebola e alho
– Queijo ralado de sua preferência (utilizei queijo minas padrão) (opcional)

Modo de preparo:
1.
Tempere as fatias de berinjela com sal e azeite a gosto e disponha-as em uma travessa. Asse-as em forno médio até que fiquem macias e cozidas (mais ou menos 40 minutos).
2. Enquanto isso refogue a cebola e o alho em um pouco de azeite.
3. Quando estiverem translúcidos, adicione os tomates em cubos, o molho de tomate, a água, a canela em pó, o cominho, o açúcar, o orégano, e o sal e a pimenta. Misture bem e cozinhe em fogo baixo até o molho engrossar e reduzir.
4. Quando o molho estiver encorpado, adicione a salsinha fresca e misture. Desligue o fogo.
5. Pincele uma travessa média com azeite e faça uma camada de berinjelas. Adicione metade do molho de tomate, e faça outra camada com o restante das berinjelas. Adicione a outra metade do molho.
6. Regue o conteúdo com 1/3 de xícara de chá de azeite, salpique o queijo ralado e as fatias de pão desmanchado.
7. Asse em forno médio até o queijo gratinar.

Dica amiga:
A berinjela costuma soltar muita água, então tome cuidado para o molho de tomate não ficar aguado. Dispense a água que a berinjela soltar com uma colher. O Imam Bayildi fica mais gostoso se servido em temperatura ambiente ou até mesmo no dia seguinte! Os gregos costumam acompanhar o prato com queijo Feta. 

Milopita (bolo de maçã)

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Eu estava demorando para postar uma receita de doce por aqui, não é mesmo? Sei que o fã clube de formiguinhas do blog é grande, por isso, resolvi testar uma receita que não tem erro. Afinal, quem recusa um bolinho de maçã e um cheirinho de canela pela casa?

A Milopita (Μηλόπιτα – milo = maçã) é um bolo molhadinho por dentro e crocante por fora, muito consumido pelos gregos no café da manhã. Adicionar nozes/castanhas/noz-moscada torna o bolo muito mais especial, então não pulem esses ingredientes super importantes! Outro ponto legal: você não precisa bater a massa na batedeira. Torna tudo mais fácil, né não? Bora começar.

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 8 pessoas

Ingredientes:
– 2 maçãs grandes, descascadas e cortadas em cubos
– 3 xícaras de chá de farinha de trigo
– 1 colher de sopa de fermento em pó
– 1 xícara de chá de açúcar
– 2 ovos
– 1/2 xícara de chá de óleo de sua preferência
– 1/2 xícara de chá de leite
– 1 colher de chá de essência de baunilha
– 1 colher de chá de canela em pó
– 1/2 colher de chá de noz-moscada
– 1/2 colher de chá de sal
– 1/4 de xícara de chá de conhaque ou licor de sua preferência
– 1/2 xícara de chá de nozes ou castanhas de sua preferência, picadas (opcional)
– Açúcar de confeiteiro para polvilhar
– Açúcar e canela a gosto, para assar as maçãs
– Manteiga e farinha, para untar a forma

Modo de preparo:
1. 
Em uma travessa, espalhe as maçãs cortadas e polvilhe açúcar e canela na quantidade que desejar. Asse em forno médio durante 15 minutos, ou até que as maçãs estejam levemente douradas e soltando líquido.
2. Em uma tigela, misture a farinha de trigo, o fermento em pó, o açúcar, a canela em pó, a noz-moscada e o sal. Misture.
3. Em seguida, adicione os ingredientes líquidos: os ovos, o óleo, o leite, a essência de baunilha e o conhaque ou licor. Misture bem até formar uma massa.
4. Adicione as maçãs e as nozes ou castanhas. Misture tudo e despeje em uma forma untada com manteiga e farinha.
5. Asse em forno médio durante aproximadamente 45 minutos, ou até que um palito saia limpo do bolo.
6. Espere esfriar e polvilhe açúcar de confeiteiro.

Dica amiga:
Esse bolo fica ainda mais gostoso no dia seguinte. Coisas que você pode fazer: acompanhar com uma bebida quentinha gostosa e se apaixonar pelo cheiro de maçã e canela que se espalha pela casa. Aproveite!

Arakás Ladheros (guisado de ervilhas)

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Um dia desses estava na Comunidade Grega de Brasília, ajudando na preparação da festa “Panighiri”, que acontece anualmente. Estávamos nós, algumas mulheres na cozinha, discutindo sobre comer carne ou não. Constatamos que na Grécia, é possível passar um bom tempo comendo apenas pratos vegetarianos, já que a quantidade é grande e todos são deliciosos.

Quanto mais os anos passam, menos vontade de comer carne eu vou tendo. Nesse quase um ano de Agregando Temperos, venho estudando e conhecendo cada vez mais sobre a culinária grega e tenho percebido que a carne não é imprescindível. Acho que, no fundo, eu sempre soube disso, mas foi só cozinhando para valer que me dei conta. Na Grécia, nós chamamos de Ladherá os pratos feitos essencialmente com vegetais e uma base de tomate e azeite de oliva. Alguns levam carne, é verdade, mas a grande maioria fica bem melhor sem.

Aqui no blog existe a categoria “Ladherá”, e lá estão várias receitas do tipo, para quem quiser se aventurar. A receita de hoje é super simples e saudável. O guisado de ervilhas ou “Αρακάς λαδερός – Arakás Ladheros” leva batata, cenoura e um bom molho de tomate. Segue a receita:

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 3 pessoas

Ingredientes:
– 1 pacote de ervilhas congeladas (você pode utilizar ervilhas frescas, se tiver a chance)
– 3 batatas grandes, cortadas em cubos
– 1 cenoura grande ralada ou cortada em rodelas
– 1 cebola média, cortada em cubos
– 2 tomates grandes, maduros, ralados + meia xícara de molho de tomate
– 2 copos de água
– 3 colheres de sopa de azeite de oliva, para refogar a cebola
– 1/4 de uma xícara de azeite de oliva extravirgem
– 1 pitada de açúcar
– Sal e pimenta, a gosto
– Salsinha picada, a gosto
– Endro/dill picado, a gosto (opcional)

Modo de preparo:
– Refogue a cebola nas 3 colheres de sopa de azeite de oliva até que fique transparente.
– Adicione as batatas e a cenoura. Refogue por alguns minutos em fogo médio.
– Em seguida, adicione os tomates ralados e o molho de tomate.
– Adicione as ervilhas, o restante do azeite, a água, o açúcar, o sal e a pimenta.
– Misture bem e refogue em fogo baixo por aproximadamente 30 minutos, sempre misturando para não grudar e adicionando um pouco de água, se necessário.
– Quando as batatas já estiverem cozidas e o molho estiver encorpado, adicione a salsinha e o endro (opcional). Misture bem e desligue o fogo.

Dica amiga:
Os pratos “Ladherá” costumam ser servidos com um bom pão de casca grossa, queijo Feta e, de preferência, em temperatura ambiente. Alguns pratos são até mesmo servidos frios e, mesmo assim, são uma delícia!

Um guia para a cozinha grega

f0efc2182922cb9acf0a5ebb13ac3181 (1)Imagem: Shutterstock

Há algumas semanas, minha mãe me presenteou com o livro A Dieta Grega, de Maria Loi e Sarah Toland. Você provavelmente já viu alguma reportagem falando sobre a famosa “dieta mediterrânea” e, mais especificamente, a dieta grega e seus benefícios para uma vida longa e saudável. Lendo este livro resolvi, então, escrever um post com dicas de como ter uma cozinha tipicamente grega, ou seja, com os ingredientes que você deve ter em casa se quiser se alimentar de uma forma deliciosa e saudável. Não vou escrever sobre os aspectos científicos dos alimentos, até porque não sou expert nesse quesito. Se você quiser se aprofundar mais no assunto, eu super recomendo o livro – é muito interessante!

Os alimentos básicos dos gregos:
Loi e Toland especificam 12 alimentos que são considerados básicos em toda cozinha grega. Eu não posso deixar de concordar. São eles:

– Azeite de oliva extravirgem, e de boa qualidade. A qualidade faz toda a diferença e eu garanto que vale a pena, inclusive no quesito “sabor”.
– Iogurte, de preferência semidesnatado. Não preciso dizer que na Grécia eles consomem o iogurte grego que é muito diferente do consumido aqui. O iogurte é um alimento muito importante nessa dieta, muitas vezes servindo de acompanhamento até para massa ou arroz.
– Vegetais frescos ou congelados. Já compartilhei muitas receitas por aqui com os tais vegetais. Existem muitas maneiras criativas de se preparar alimentos como brócolis, couve-flor, vagem, quiabo, alho-poró, chalota, cebola, ervilha, tomate, berinjela, cenoura, batata, folhas de parreira, etc. Basicamente, os vegetais são muito importantes em nossa culinária.
– Leguminosas secas ou em conserva. Ou seja: grão-de-bico, lentilha, feijão-branco, feijão fradinho, entre outros. Estes alimentos não fazem parte da dieta grega apenas em tempos de Quaresma, mas também no dia a dia de cada um.
– Frutas frescas e secas; grãos integrais; sementes oleaginosas. Por exemplo: trigo, cevada, quinoa, farro, amêndoas, nozes, pistache, avelãs, damasco, uva-passa, ameixas, figos, tâmaras, melões, pêssegos, cerejas e melancias.
– Peixes e frutos do mar. A Grécia conta com mais de 6000 ilhas, sendo 227 delas habitadas. Resumindo: frutos do mar são muito importantes, principalmente para os habitantes da costa e das ilhas. Alguns exemplos são: lulas, camarões, polvo, vieiras e peixes no geral.
– Aves e ovos, de preferência orgânicos. São consumidos com menos frequência mas ainda assim fazem parte de uma boa cozinha grega.
– Vinho tinto ou branco e vinagre balsâmico ou de vinho tinto. Também já comentei por aqui que o vinagre é muito utilizado para temperar saladas e leguminosas, sempre com moderação.
– Café preto e chá. O café é feito da maneira grega, ou seja, o pó é fervido em um “briki” (recipiente para preparar o café). Alguns chás consumidos são de hortelã, camomila, sálvia e o famoso “tsai tou vounou”, ou chá grego da montanha.
– Mel.
– Queijo Feta e outros queijos brancos, como a Ricota, para cozinhar. Além de outros queijos gregos como Mizithra, Kefalotyri e Graviera.
 Especiarias, ervas frescas e outros temperos como limão-siciliano, cebolinha e salsinha. 

As especiarias e ervas que não podem faltar na sua cozinha:
A culinária grega é uma mistura de ingredientes frescos, ervas e especiarias utilizadas da maneira correta e muita simplicidade. Eu adoro usar temperos nos pratos que eu cozinho; uma das coisas que eu mais amo é poder sentir o cheiro dos temperos se misturando. Muitas pessoas comentam comigo que não sabem em que lugar achar determinados temperos e me perguntam quais são as especiarias mais utilizadas pelos gregos. É fácil: eu recomendo lugares como feiras, o mercado municipal ou as centrais de abastecimento (CEASA, etc) da sua cidade. Primeiro porque existe uma variedade enorme de especiarias nesses lugares, e também porque os preços são mais razoáveis. Ah, você também pode comprar a granel! Então, aqui vai uma lista das especiarias e ervas favoritas dos gregos:

– Orégano seco
– Cominho
– Salsinha fresca
– Canela
– Pimenta-da-Jamaica
– Pimenta caiena
– Tomilho
– Noz-moscada
– Hortelã fresca
– Endro
– Manjericão
– Louro
– Cravo
– Açafrão
– Salsão
– Alho
– Cebola
– Funch0 (ou erva-doce)
– Gergelim

Para finalizar, queria comentar que o açafrão muito utilizado pelos gregos é o “Krokos” ou “Krokos Kozanis” (sim, da região da minha avó, que tanto cito por aqui). O Krokos é completamente orgânico e possui o selo de DOP (Denominação de Origem Protegida). Ele é famoso por seu aroma intenso e pela cor vermelho-dourada; tem propriedades medicinais e afrodisíacas, além de ser utilizado na culinária, em sopas, carnes, aves, e outros alimentos.

Pizza grega/pizza uruguaia

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Já devo ter mencionado aqui que a minha família veio de todos os cantos do mundo. Cresci comendo coisas do sul do Brasil, coisas da Grécia, coisas do Uruguai… e não é que existem várias semelhanças entre a Grécia e o Uruguai? Sim, uma delas é a PIZZA. Como estou passando por um momento um pouco turbulento e triste na minha vida, resolvi fazer uma comfort food essa semana.

Minha avó sempre fez a tal da “pizza uruguaya” que é uma versão retangular e de massa grossa, que leva todo aquele queijo derretido por cima dos outros ingredientes: molho de tomate, cebola e orégano. A versão grega, por sua vez, é chamada de Λαδένια (Ladhênia) e também tem uma massa grossinha. A diferença é que ela não leva queijo, mas, em contrapartida, leva MUITO azeite de oliva. A “Ladhenia” é tradicional da ilha de Kimolos, que fica nas ilhas Cíclades. Sem muitas enrolações, vamos ao que interessa? Pizza!

*Nível de dificuldade: médio
*Tempo de preparo: 3h30

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes – Ladhenia (pizza grega):

Massa:
– 1 sachê de fermento biológico seco (10 g)
– Aproximadamente 600 g de farinha de trigo (ou o quanto bastar)
– 1 copo e meio de água morna
– 1 colher de chá de sal
– 1 quarto de um copo de azeite de oliva
– Farinha para a bancada e para sovar

Recheio:
– 2 tomates grandes e maduros, cortados em meia lua
– 1 cebola grande, cortada em meia lua
– Meio alho-poró, cortado em rodelas
– 1 terço de um copo de azeite de oliva extravirgem
– Sal e pimenta a gosto
– Orégano a gosto (se você gosta, eu recomendo um bocado)
– Azeite de oliva para servir

Modo de preparo:
1.
Em uma tigela, adicione a água morna, o fermento e o sal. Espere o fermento agir por 10 minutos.
2. Quando a mistura estiver borbulhando lentamente, adicione o azeite e a farinha. Misture, adicionando mais farinha se preciso, para dar o ponto. A massa precisa estar elástica e não muito grudenta.
3. Polvilhe farinha de trigo em uma bancada limpa, despeje a massa e sove, adicionando mais farinha para não grudar, por 10 minutos.
4. Em uma travessa grande e de bordas altas, despeje e estique a massa até que ela cubra todo o espaço.
5. Cubra a travessa com papel filme e a coloque em um local levemente morno, para que a massa cresça.
6. Após 45 minutos ou 1 hora, ou quando a massa crescer pincele o restante do azeite de oliva.
7. Espalhe o tomate, a cebola e o alho-poró. Polvilhe sal, pimenta e orégano a gosto.
8. Asse em forno médio por aproximadamente 50 minutos, ou até que a massa fique dourada.
9. Sirva com mais azeite!

Dica amiga:
A massa da Ladhenia é grossa, mas, caso você preferir, pode separar a massa em duas travessas redondas menores, para que ela fique um pouco mais fina. Uma das minhas melhores dicas é comer a pizza em temperatura ambiente!

Variação – Pizza Uruguaia

– Para fazer a pizza uruguaia, basta seguir os mesmos passos da massa da pizza grega. O que muda é o recheio, que leva: molho de tomate caseiro, bastante orégano, cebolas picadas em meia lua e, para finalizar, muito queijo muçarela (exatamente nesta ordem). Depois é só assar até a massa dourar e o queijo derreter!

Feijão fradinho “kokkinisto”

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No domingo passado, nós gregos celebramos o “Domingo de Ramos”, marcando o início da nossa Semana Santa. Como de costume, minha família optou por não comer carne. Eu, que já não sou a maior carnívora do mundo, achei ótimo para colocar minha criatividade na cozinha em prática. Aqui em casa comemos pouquíssima carne (Tia Voula de Casamento Grego ficaria horrorizada), mas, em contrapartida, comemos muitos grãos. A receita de hoje é nova na família, mas, apesar disso, ela foi aprovada. Adaptei-a de um livro sobre os sabores da Grécia.

Como meu livro é de Portugal e o autor não indica os nomes em grego, eu chamaria esta receita de Φασόλια μαυρομάτικα κοκκινιστά (Fassôlia mavromátika kokkinistá). O termo “kokkinisto” significa literalmente “avermelhado”, ou seja, é um prato com uma base de molho de tomate. Pratos chamados assim são, geralmente, feitos com carne de vaca ou de cordeiro e servidos com arroz, batatas ou massa. Hoje resolvi dar uma inovada. Se você gosta de feijão, mas não aguenta prepará-lo sempre da mesma forma, vai adorar esta versão. É só me acompanhar:

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 250 g de feijão fradinho cozido (não muito mole)
– 1 cebola média, picada
– 3 dentes de alho, picados
– 2 tomates grandes, ralados
– Meia xícara de chá de polpa de tomate
– Orégano a gosto
– Cominho a gosto
– Páprica a gosto
– Salsinha a gosto
– 1 pitada de açúcar
– Sal e pimenta a gosto
– Folhas de endro (dill) a gosto, picadas (opcional)
– Meia xícara de chá de azeite de oliva extravirgem

Modo de preparo:
1.
Doure a cebola e o alho em metade da quantidade de azeite separada para a receita.
2. Quando tudo estiver transparente, adicione os tomates ralados e a polpa de tomate. Misture e deixe pegar fervura.
3. Tempere com o orégano, a páprica e o açúcar. Misture e deixe cozinhar em fogo baixo.
4. Quando a mistura estiver com uma cor vermelha vibrante, adicione o feijão fradinho cozido. Adicione o restante dos temperos: o cominho, o sal, a pimenta e o restante do azeite. Misture e deixe tudo cozinhar, mantendo o fogo baixo.
5. Cinco minutos antes de desligar o fogo, adicione a salsinha e o endro (opcional). Misture bem, desligue o fogo e é só servir!

Dica amiga:
Aqui no Brasil temos o costume de comer leguminosas com arroz. Você pode optar por esse acompanhamento ou servir o prato como “ensopado” e comer com um bom pão e fatia de queijo ou iogurte natural!

Tiropita do Thanasi (folhado de queijo grego)

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Vou começar esse post dizendo que esse é um dos meus pratos favoritos da vida. Quem já esteve na minha casa ou conhece o meu pai, o Thanasi, provavelmente vai saber do que estou falando. Há algumas semanas tivemos, na Comunidade Grega de Brasília, uma festa de comemoração do dia da independência da Grécia. Eu e meu pai fomos convocados para dar uma ajudinha na parte da comida, e logo decidimos que não podia faltar Tiropita, um dos pratos mais queridos de todos os gregos (tô mentindo ou não?).

Eu cresci observando meu pai preparar esse prato. Quando vinha visita em casa, não podia faltar. Meu pai logo me chamava para desmanchar o queijo e untar as travessas; de vez em quando eu me atrevia a mexer o conteúdo da panela. É realmente um dos meus pratos mais queridos. Hoje, brinco que ele só faz esse prato para as visitas e que morro de ciúmes porque queria que ele fizesse uma travessa só para mim. Hoje, também, estou aqui para compartilhar uma das receitas mais importantes da minha família.

Tiropita (Tυρóπιτα – Tirópita) é uma torta folhada de queijo extremamente tradicional da Grécia. Como já mencionei aqui antes, as tortas folhadas, tanto doces como salgadas, são elementos muito importantes da culinária grega. E pode ter certeza que todas são maravilhosas. Originalmente, a Tiropita é feita com queijo Feta e, de vez em quando, com outros queijos gregos como o Kasseri ou Kefalotyri. Aqui no Brasil é um pouco difícil atingir esse resultado, então ficamos com outros queijos que são mais populares por aqui.

Tiropita é vendida em todos os cantos da Grécia e serve, popularmente, como um ótimo lanche. Ela também é preparada em diversos formatos, dependendo da região ou ilha em que é feita. Uma das coisas mais legais de Atenas, por exemplo, é entrar nas cafeterias especializadas em loukoumades e também pedir uma Tiropita; elas são servidas quentinhas e são deliciosas.

*Nível de dificuldade: médio para difícil
*Tempo de preparo: 2h30

*Serve, em média: 8 pessoas

Ingredientes:
– 1 pacote de massa folhada laminada, descongelada
– 1 cebola grande, picada
– 1 xícara de salsinha fresca, picada
– 2 colheres de sopa de manteiga
– 1 pacote de ricota fresca
– 1 pacote de queijo minas
– 3 ovos (de preferência “caipira”)
– 1 xícara bem cheia de farinha de rosca
– Sal a gosto
– Manteiga, para pincelar e untar a travessa
– Farinha de trigo, para untar travessa
– Gergelim a gosto, para salpicar

Modo de preparo:
1. 
Primeiro, desmanche os queijos em uma tigela grande. É preciso que eles estejam quase esfarelados.
2. Em uma panela grande, doure a cebola nas duas colheres de sopa de manteiga. Quando ela estiver transparente, adicione a salsinha e misture em fogo baixo por uns dois minutos.
3. Desligue o fogo e adicione os queijos desmanchados, o sal e a farinha de rosca. Misture bem.
4. Quando a panela estiver esfriando, bata os três ovos levemente e adicione à mistura na panela. Mexa bem e reserve.
5. Unte uma travessa de tamanho médio para grande com manteiga e farinha.
6. Em uma bancada limpa, adicione farinha e corte a massa folhada no meio. Abra cada pedaço da massa com um rolo de massa, adicionando farinha à bancada se for necessário, para não grudar. Cada pedaço de massa deve ser mais ou menos três dedos maior do que a travessa, de todos os lados.
7. Com cuidado, coloque uma metade da massa na travessa untada, deixando as beiras para fora.
8. Despeje e espalhe a mistura do queijo por cima da massa.
9. Coloque a segunda metade da massa folhada por cima do queijo, novamente com muito cuidado. Dobre as laterais a fim de “fechar” a torta folhada.
10. Pincele manteiga por cima da massa e salpique gergelim a gosto.
11. Asse em forno médio por aproximadamente 45 minutos, ou até que o topo esteja dourado e a parte de baixo não esteja mais soltando nenhum líquido (do queijo). Cuidado para não queimar a parte de baixo do folhado, especialmente em travessas de vidro.
12. Você pode cobrir a travessa com papel filme, congelar o folhado ainda cru e assar na ocasião que preferir.

Dica amiga:
Você pode escolher outro queijo “salgado” de sua escolha, além do queijo minas, mas eu não recomendo os queijos muçarela e prato. É importante que a Tiropita não tenha aquela consistência de queijo elástico. Dê preferência aos queijos mais duros, como o parmesão. E aprendi que os ovos caipiras são muito importantes; além de mais saborosos, elas dão uma cor mais bonita ao prato. 

Laghána – o pão do primeiro dia da Quaresma

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Eu cresci vendo a minha avó fazer pão; chegava sábado e ouvia ela preocupada, dizendo “não posso sair hoje, preciso preparar o Prosphoro de domingo (que é o pão oferecido em nossa igreja)”. Adorava ajudar ela a sovar a massa, de vez em quando beliscava e comia um pedaço de massa crua (quem nunca). A verdade é que o pão é um dos alimentos mais populares no mundo desde a antiguidade. Algumas semanas atrás, assisti ao documentário/série da Netflix Cooked e fiquei com uma vontade enorme de fazer o meu próprio pão. Sempre tive um pouco de preguiça e medo de dar tudo errado, de gastar fermento e o pão ficar horroroso. Mas resolvi tentar.

Laghána (Λαγάνα – Laghána) é um pão preparado e servido no primeiro dia da nossa Quaresma, e somente nesse dia. Ele costumava ser um pão ázimo, ou seja, assado sem qualquer tipo de fermento, mas hoje em dia o uso do fermento é mais comum. O topo dele costuma ter marcas de dedos e ele é tipicamente salpicado com gergelim e outras ervas secas. Uma das tradições envolvendo a Laghána no primeiro dia da Quaresma é cortar os pedaços com as mãos, e não com uma faca, a fim de evitar má sorte. Por conta do blog, acabei fazendo o pão no “dia errado”, mas queria muito compartilhar a receita com vocês, que é deliciosa. A Laghána é crocante por fora e macia e aerada por dentro. Com um saquinho de fermento, consegui fazer dois pães, então, se você preferir, pode assar vários deles e congelar para uso futuro.

E não deixe de assistir o documentário que mencionei!

*Nível de dificuldade: médio para difícil
*Tempo de preparo: 2h30

*Serve, em média: 6 pessoas

Ingredientes:
– 2 copos e meio de farinha de trigo
– 2 colheres de chá de fermento biológico fresco
– 1 copo de água morna
– Um quarto de copo de azeite de oliva
– 1 pitada de sal
– 1 pitada de açúcar
– Azeite de oliva para pincelar
– Gergelim a gosto para finalizar
– Orégano e outras ervas secas a gosto para finalizar (opcional)
– 
O quanto bastar de farinha de trigo para sovar a massa

Modo de preparo:
1.
Despeje a água morna, o fermento biológico e o açúcar em uma tigela grande. Aguarde mais ou menos 10 minutos até o conteúdo soltar bolhinhas. Isso serve para testar o fermento. Dependendo da marca que você utilizar, você pode pular esse passo e juntar todos os ingredientes na tigela.
2. Junte à tigela a farinha de trigo, o azeite e o sal. Misture toda a massa com uma colher grande até que ela esteja soltando da tigela.
3. Em uma bancada limpa, polvilhe um pouco de farinha de trigo.
4. Despeje a massa na bancada e sove com o quanto precisar de farinha de trigo por mais ou menos 10 minutos. A massa da Laghána é bem leve e aerada, portanto, ela não deve ficar muito dura. Faça uma bola com a massa.
5. Unte uma tigela com um pouco de azeite e coloque a bola de massa.
6. Deixe a massa descansando, coberta com um pano de prato, em um lugar de temperatura mais quente por mais ou menos 1 hora. Você pode colocar a massa em uma varanda em que bata o sol, por exemplo.
7. Verifique se a massa cresceu. Ela deverá ter triplicado de tamanho. Para verificar se está pronta para assar, aperte ela com seu dedo. Se a massa voltar só pela metade, ela está pronta.
8. Unte uma forma grande e retangular de sua preferência e despeje a massa.
9. Estique e aperte a massa lentamente até ela ficar em um formato retangular, porém rústico. Aperte o topo da massa com seus dedos a fim de deixar a marca deles no pão.
10. Pincele com um pouco de azeite de oliva e salpique gergelim e as ervas secas de sua preferência.
11. Asse em forno médio por aproximadamente 30 minutos ou até o pão dourar.
12. Espere esfriar e depois é só servir.

Dica amiga:
Sirva o pão com skordaliá, com tzatziki, com hummus, com azeite, com a pasta de sua preferência, como acompanhamento para saladas ou apenas sozinho assim. Sério, ele sozinho também fica uma delícia. 

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Skordaliá (pasta de alho grega)

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Na minha casa, o prato que vou ensinar hoje sempre foi um pouco “mitológico”. Digo isso porque ele leva bastante alho (obviamente) e aqui quase todos têm dificuldade para digerir alho cru. Sempre ouvia a minha avó falando sobre como essa pasta é uma delícia e ficava com vontade de provar, afinal, eu sou a louca do alho – ele não pode faltar nas minhas comidas. Pois bem, finalmente testei a receita e hoje posso dizer que sim, a pasta é realmente é uma delícia.

Skordaliá (Σκορδαλιά – Skordhaliá) é uma espécie de pasta de alho grega. Ela parece um purê porque, na verdade, é quase um purê mesmo – a versão mais popular e dita “verdadeira” leva batatas amassadas. Algumas famílias fazem com pão amanhecido batido ou uma mistura dos dois ingredientes. É muito popular durante a Quaresma, pois serve de acompanhamento para peixes e vegetais. O ingrediente principal aqui é o alho (skordho = alho), portanto, se você tem problemas para digerir alho cru ou vai beijar alguém essa noite, eu não recomendo. Mas, se você quiser muito provar esse prato/acompanhamento, é só diminuir na quantidade de alho.

*Nível de dificuldade: fácil
*Tempo de preparo: 1 hora

*Serve, em média: 4 pessoas

Ingredientes:
– 3 batatas grandes, cozidas
– 6 dentes de alho
– Meia xícara de azeite de oliva extravirgem
– Sal e pimenta a gosto
– 1 colher de sopa de vinagre de vinho tinto
– Sumo de meio limão

Modo de preparo:
1.
Em um pilão, bata bem os dentes de alho com o sal e a pimenta até criar uma pasta.
2. Em uma tigela, amasse bem as batatas, adicione a pasta de alho, o azeite, o vinagre e o sumo de limão. Amasse tudo e mexa bastante até que a mistura fique cremosa, mas, ao mesmo tempo, rústica.
3. Ajuste o sal se necessário e sirva com um pouco mais de azeite.

Dica amiga:
Gosto da Skordaliá bem rústica, ou seja, com alguns pedacinhos de batata inteiros. Você pode optar por fazer uma versão bem cremosa, como um requeijão mais ralo, é só utilizar um mixer para bater tudo! Para dar uma incrementada, você pode servir com um pouco de alecrim ou salsinha fresca. 

Koulourakia da Tia Maria (biscoitos de azeite de Páscoa)

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Semana passada, falei em um post sobre como março foi um mês bem caótico, cheio de festas e aniversários. Por conta de todos os eventos, uma parte da minha família materna, que mora no Uruguai, veio nos visitar. Durante essas semanas juntos, conversamos muito sobre a Grécia e sobre a culinária grega; ganhei de presente duas receitas escritas pela minha bisavó Maria (mãe do meu avô) e fiz a receita de hoje com a minha vó e com a minha tia Maria em uma tarde de domingo (sim, temos muitas Marias na família!).

Como falei um tempo atrás, estamos na Quaresma cristã ortodoxa e no começo de maio celebraremos a nossa Páscoa. Koulourakia (Kουλουράκια – Culurákia) são biscoitos feitos, principalmente, durante essa época do ano. Eles me lembram muito a minha família. Minha avó costuma fazer várias travessas e eles duram bastante tempo se armazenados corretamente. Além disso, a versão da minha tia Maria leva azeite de oliva em vez da versão mais tradicional que leva manteiga.

Se você gosta de um biscoitinho na hora do café, vai adorar Koulourakia. Tenho lembranças muito boas da minha avó fazendo “vouti-vouti” – mergulhando os biscoitos no café até amolecerem levemente com o calor. Um detalhe importante da receita é que ela leva ingredientes que dão um sabor mais acentuado aos biscoitos: Mahlepi (pó que vem do caroço de uma variedade de cereja) e Anthonero (água de flor de laranjeira). Você pode achar esses ingredientes em lojas de produtos árabes, por exemplo, mas, caso não achar, pode substituir por conhaque. Você pode contrabandear da Grécia também, shhhhh, não conta para ninguém!

*Nível de dificuldade: médio para difícil
*Tempo de preparo: 2 horas

*Serve, em média: 12 pessoas

Ingredientes:
– Aprox. 700 g de farinha de trigo
– 3 ovos + 1 gema batida para pincelar nos biscoitos
– 1 xícara de chá de azeite de oliva extravirgem
– 1 xícara de chá de açúcar
– 1 colher de sobremesa de fermento químico
– 1 colher de chá de essência de baunilha
– 2 colheres de chá de Mahlepi ou Anthonero OU 1 colher de chá de conhaque
– Gergelim para decorar

Modo de preparo:
1.
Bata os 3 ovos, o azeite, o açúcar, a baunilha e o Mahlepi/Anthonero/conhaque no liquidificador ou batedeira por mais ou menos 5-10 minutos. Tudo precisa estar bem batido e borbulhando.
2. Despeje o conteúdo em uma tigela e adicione a farinha e o fermento. Mexa tudo muito bem até que vire uma massa. Se precisar, adicione um pouco mais de farinha.
3. Em uma bancada, despeje um pouco de farinha e sove a massa bastante.
4. Pegue pedaços do tamanho de uma bola de ping pong, enrole a massa como se fosse uma “cobra” e faça tranças no formato que você desejar. Você pode fazer os biscoitos no formato dos meus (redondos) ou compridos.
5. Coloque os biscoitos em uma travessa untada ou com papel-manteiga, pincele cada um com a gema de ovo batida e adicione o gergelim a gosto por cima. Não é necessário que os biscoitos fiquem bem separados, já que eles não crescem muito.
6. Asse-os em forno médio por aproximadamente 30 minutos ou até que estejam bem dourados.
7. Deixe que esfriem e sirva com um bom café!